quinta-feira, julho 31, 2025
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A música está em risco? O que a IA pode (ou não) remover dos artistas humanos.

O uso da inteligência artificial (IA) na música está transformando a indústria, ao mesmo tempo em que gera controvérsias. Ferramentas baseadas em IA já permitem a criação de faixas com qualidade profissional, mesmo sem o acesso a estúdios caros, o que democratiza a produção musical. No entanto, essas tecnologias também automatizam processos criativos e levantam preocupações sobre a substituição de artistas, além de reacender debates sobre propriedade intelectual e direitos autorais. A seguir, confira a avaliação de especialistas e entenda os impactos positivos e negativos da IA no cenário musical.

Como a IA está impactando a indústria musical?

A inteligência artificial influencia o mercado da música tanto do ponto de vista econômico quanto criativo. Com o avanço das plataformas de IA, é possível utilizar essas ferramentas para automatizar processos na indústria musical, como a organização de catálogos, a separação de faixas e a identificação de padrões. Essas inovações podem impactar a economia do setor, reduzindo custos e substituindo profissionais que tradicionalmente realizam essas tarefas.

O advogado Sydney Sanches, especialista em propriedade intelectual e direitos autorais, ressalta que o uso de IA em músicas não é novidade. Embora processos envolvendo machine learning já fossem empregados na indústria musical há anos, a disseminação da IA Generativa trouxe à tona debates mais relevantes. Segundo Sanches, “os desafios estão naquilo gerado sem necessariamente ter um processo criativo envolvido. Qualquer um pode criar músicas com alguns cliques, baseando-se em produções de autores que não necessariamente autorizaram esse uso”.

A inteligência artificial já produziu diversos covers com vozes de cantores renomados. A música “Heart on My Sleeve”, que utilizou as vozes de Drake e The Weeknd, tornou-se viral nas redes sociais, alcançando mais de 10 milhões de reproduções no TikTok antes de ser removida da plataforma. Essa geração de música por IA levanta questionamentos sobre a substituição de profissionais humanos por conteúdos automatizados, e o uso de algoritmos que se baseiam em materiais criados por outros artistas levanta preocupações em relação aos direitos autorais.

Qual é o impacto econômico da IA em músicas?

De acordo com um estudo global realizado pela CISAC (Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores), profissionais da música e do setor audiovisual podem enfrentar perdas de até 24% e 21% em suas receitas até 2028, respectivamente. Isso poderia resultar em uma perda acumulada de € 22 bilhões (aproximadamente R$ 142 bilhões) ao longo de cinco anos. O relatório aponta que os criadores enfrentarão a perda de renda devido à utilização não autorizada de suas obras para treinar modelos de IA.

Por outro lado, o mercado antecipa um aumento na concorrência entre conteúdos gerados por IA e obras produzidas por profissionais. O estudo estima que a música e o audiovisual gerados por IA crescerão de € 3 bilhões (R$ 18 bilhões) para € 64 bilhões (R$ 405 bilhões) até 2028, em grande parte devido à reprodução não licenciada de obras criadas por humanos. Além disso, a IA deve representar até 20% das receitas de plataformas de streaming e 60% das bibliotecas de música até 2028.

O uso de IA na música é legalizado?

Sydney Sanches afirma que não há consenso jurídico sobre a criação de música por IA, mas alternativas estão sendo discutidas. As principais ferramentas de IA atualmente operam sem licenciamento formal. Um exemplo é o Suno AI, um software que gera músicas, mas que se apropria de conteúdos protegidos. Para resolver essa questão, Sanches sugere que, ao gerar receita, os autores cujas músicas foram usadas deveriam ser compensados. Além disso, uma proposta seria tornar ilegal o uso de conteúdo não autorizado pelas inteligências artificiais.

“O problema surge quando um resultado de IA é gerado sem licenciamento, dificultando a identificação e a remuneração dos titulares. Entender como compensar os criadores de conteúdo original tem sido um desafio, pois as plataformas de IA ainda não estabeleceram relações formais com a economia criativa, seja no audiovisual ou na música”, comentou o especialista.

As soluções regulatórias em discussão, tanto em níveis nacionais quanto internacionais, apresentam duas variantes. A primeira, chamada de Opt In, exige que as ferramentas iniciem dentro de uma estrutura comercial pré-estabelecida, envolvendo grandes corporações, com licenciamento prévio dos titulares. A segunda, chamada Opt Out, permite que os autores solicitem a retirada de seu conteúdo, ou negociem a divisão dos lucros. Ambas as abordagens estão sendo consideradas em diversos países.

A IA pode substituir a criatividade humana?

Outro ponto de debate refere-se à capacidade da IA de criar arte ou apenas reproduzir padrões já existentes. As plataformas de IA utilizam algoritmos baseados em conteúdos criados por seres humanos, dificultando a competição real com a criatividade humana. Assim, enquanto a IA pode facilitar a automação de tarefas repetitivas e bureaucráticas, ela não substitui a sensibilidade do criador humano.

Um exemplo disso é o aplicativo “Moises: Inteligência Artificial Aplicada na Produção Musical”, que conta com uma equipe de artistas e produtores para gerar conteúdo autoral que treina modelos de IA sem infringir direitos autorais.

Qual é o futuro da indústria musical?

Embora as ferramentas de IA impactem de maneira significativa a indústria musical, é provável que elas complementem, em vez de substituir, o trabalho dos músicos. Para Sydney, é essencial que a legislação proteja a propriedade intelectual sem inviabilizar a inovação tecnológica. Portanto, os profissionais da área precisam se adaptar às novas tecnologias e reconhecer o potencial que elas possuem para otimizar e facilitar processos.

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