A busca por vida extraterrestre tradicionalmente se concentra em planetas localizados na “zona habitável” — a faixa orbital onde a água em estado líquido pode existir. No entanto, novas pesquisas indicam que a vida pode prosperar longe da luz estelar em uma zona denominada “zona habitável radiolítica”, onde raios cósmicos penetram e quebram moléculas de água enterradas (um processo chamado radiólise) em hidrogênio, oxigênio e elétrons ricos em energia. Simulações de mundos gelados, como Marte, Europa e a lua Encélado de Saturno, demonstram que os raios cósmicos podem alcançar a água subterrânea. Os pesquisadores sugerem que esses elétrons poderiam alimentar micróbios em reservatórios ocultos, criando, assim, oásis de vida subterrâneos.
### Radiação como Fonte de Energia
Segundo o novo estudo, os raios cósmicos são partículas de alta velocidade (elétrons, prótons ou núcleos) lançadas por supernovas e estrelas distantes. Na Terra, a maioria é barrada por nosso campo magnético e atmosfera densa. Entretanto, Marte e as luas geladas (que não possuem essa proteção) são atingidos diretamente; seu ar rarefeito ou o vácuo permite que os raios penetrem profundamente em gelo e rocha. Quando essas partículas colidem com água ou gelo, elas desencadeiam a radiólise — destruindo moléculas e liberando hidrogênio, oxigênio e elétrons. Alguns micróbios da Terra já exploram essa possibilidade: por exemplo, uma bactéria encontrada 2,8 km abaixo da superfície em uma mina de ouro vive exclusivamente do hidrogênio produzido pelo decaimento radioativo.
### Ampliando a Busca por Vida
Denominada “Zona Habitável Radiolítica”, essa faixa de energia oculta se localiza sob gelo ou rocha, onde os raios cósmicos podem sustentar a vida. Simulações indicam que a lua Encélado, de Saturno, possui o maior potencial radiolítico, seguida por Marte e pela lua Europa de Júpiter. A futura missão Europa Clipper da NASA e telescópios como o ALMA investigarão esses mundos congelados em busca de sinais químicos de vida. Ainda mais interessante, os impactos dos raios cósmicos podem criar diretamente moléculas orgânicas complexas (como precursores de aminoácidos) no gelo. Como os raios cósmicos permeiam a galáxia, até mesmo um planeta errante vagando pelo espaço estaria exposto a intensa radiação.
Como afirma Dimitra Atri, astrofísica e co-autora do novo estudo, “a vida pode ser capaz de sobreviver em mais lugares do que jamais imaginamos”, sugerindo que biosferas ocultas podem existir em muitos nichos frios e escuros.