Importância e contexto global
As terras raras englobam 17 elementos químicos fundamentais para tecnologias de ponta como motores de veículos elétricos, turbinas eólicas e componentes eletrônicos avançados. Ainda que abundantemente presentes no planeta, sua extração e processamento são complexos. A China concentra aproximadamente 40 % das reservas globais e cerca de 70 % da produção, mantendo controle significativo sobre a cadeia de suprimento mundial.
Reservas brasileiras: uma vantagem estratégica clara
O Brasil ocupa posição de destaque em termos de reservas. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o país possui 21 milhões de toneladas de terras raras, o que representa a terceira maior reserva mundial ao lado da Rússia, atrás apenas da China e do Vietnã Serviços e Informações do Brasil. Dados do USGS reforçam essa posição, indicando reservas brasileiras na mesma magnitude Valor Econômico. Outras estimativas apontam que o Brasil detém entre 19 % e 23 % do total global.
Produção modesta comparada ao potencial
Apesar das reservas expressivas, a produção brasileira é ainda simbólica. O Valor Econômico destaca que o Brasil extraiu apenas 20 toneladas em 2024, enquanto a China foi responsável por 270 mil toneladas no mesmo período. A Agência Cidades reporta que o país responde por apenas 0,02 % da produção mundial, equivalente a cerca de 80 toneladas anuais. A CartaCapital sinaliza números igualmente modestos, com participação inferior a 0,01 % em 2024.
Iniciativas concretas e recentes
A Mineração Serra Verde iniciou em 2024 a produção comercial de concentrado misto de terras raras em Minaçu (GO). A estimativa é alcançar 5 000 toneladas por ano de óxido de terras raras, utilizando técnicas ambientalmente gentis com energia renovável. O projeto Caldeira em Poços de Caldas (MG) recebeu investimento previsto de R$ 1,5 bilhão com início das operações previsto para 2026, gerando centenas de empregos diretos e indiretos. O Brasil também lançou, em 2025, um fundo de R$ 1 bilhão no BNDES com apoio da Vale para viabilizar projetos de minerais estratégicos.
Impacto econômico potencial
Um relatório da Deloitte e da AYA Earth Partners projeta que a cadeia produtiva de terras raras poderia agregar até R$ 243 bilhões por ano ao PIB brasileiro nos próximos 25 anos, se o país expandir a extração, o processamento e o refino internamente.
Vantagens competitivas e desafios persistentes
Notícias da Reuters apontam vantagens competitivas claras para o Brasil, como custos trabalhistas baixos, energia limpa, boa estrutura regulatória e mão de obra qualificada. Ao mesmo tempo, há desafios relevantes a vencer: preços baixos das terras raras, complexidades técnicas, financiamento difícil e dominação tecnológica por poucos players.
Caminhos necessários para assumir protagonismo
O país precisa avançar em algumas frentes para transformar o potencial em realidade:
- acelerar licenciamento e criar um ambiente regulatório claro e eficiente
- investir em P&D, beneficiamento e refino locais
- atrair investimentos públicos e privados, aproveitando o fundo de R$ 1 bilhão já lançado
- fortalecer cooperações internacionais e adoção de tecnologias sustentáveis de extração e reciclagem
O Brasil enfrenta um momento de oportunidade estratégica. Detém reservas expressivas de terras raras, elemento central da transição energética, mas ainda carece de produção significativa. A combinação de avanços recentes, investimentos públicos e potencial econômico cria a base para que o país assuma posição de liderança global. Com políticas assertivas e visão de longo prazo, o Brasil pode sair da condição de mero exportador de minério para se tornar referência em tecnologia limpa e soberania mineral.