Turquia avança no programa do caça furtivo de quinta geração KAAN ao encomendar um sexto protótipo. Entenda a história do projeto, sua importância estratégica, detalhes técnicos, marcos de desenvolvimento, parcerias internacionais e como esse novo protótipo acelera a chegada do caça turco de última geração.
Contexto histórico do programa KAAN
O KAAN é o primeiro caça furtivo de quinta geração desenvolvido pela Turquia, concebido para substituir os caças F-16 da Força Aérea Turca e reduzir dependências externas. O programa teve início no início da década de 2010, quando em 2010 o governo turco aprovou o desenvolvimento de um caça nacional de nova geração. Nos anos seguintes, a Turquia explorou cooperações internacionais para viabilizar o projeto – chegaram a consultar a sueca Saab em 2013 para assistência de design, e em 2015 firmaram parceria com a britânica BAE Systems para suporte de engenharia no desenvolvimento da aeronave. Em 2016, um contrato de desenvolvimento foi firmado entre a indústria de defesa turca e a Turkish Aerospace Industries (TAI), oficializando o projeto então conhecido como TF-X.
O nome “Kaan” (palavra que em turco pode significar “governante” ou “imperador”) foi oficialmente atribuído ao caça em maio de 2023, marcando uma nova fase de identidade do projeto – que também é chamado de MMU (Milli Muharip Uçak), sigla para “Aeronave de Combate Nacional” em turco. Ao longo da última década, o programa evoluiu de estudos conceituais para a construção de protótipos reais. Em março de 2023, o primeiro protótipo realizou testes de taxiamento e corrida de pista em Ancara, preparando-se para o voo inaugural.
Importância estratégica do caça KAAN para a Turquia
Desenvolver um caça de quinta geração próprio é um projeto de enorme importância estratégica para a Turquia. O programa KAAN tornou-se um pilar central dos esforços do país em alcançar autossuficiência em defesa e reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros. Pouquíssimos países no mundo dominam tecnologias de caças de quinta geração – até agora apenas Estados Unidos (com o F-22 Raptor e F-35 Lightning II), China (J-20 e J-35) e Rússia (Su-57) possuem programas desse tipo em operação ou avançado estágio. A Turquia, membro da OTAN, busca entrar nesse seleto grupo; observadores consideram o KAAN uma tentativa crível de desenvolver, de forma independente, um caça de quinta geração compatível com os das grandes potências.
A motivação turca ganhou ainda mais urgência após um revés diplomático-militar: em 2019, os EUA removeram a Turquia do programa multinacional do caça F-35, em resposta à compra turca de sistemas russos S-400. Essa ruptura impediu a Turquia de receber os caças F-35 encomendados e forçou o país a redobrar esforços no caça nacional. Originalmente, o TF-X (hoje KAAN) seria um complemento aos F-35 na defesa aérea turca; agora tornou-se essencial para preencher essa lacuna e garantir que a Força Aérea não fique defasada nas próximas décadas.
Além da questão militar, o projeto KAAN tem valor geopolítico. Ele simboliza a ambição da Turquia de se afirmar como potência tecnológica e militar independente, ampliando sua influência regional no Oriente Médio, Ásia Central e África. Ao mesmo tempo, desenvolvendo seu próprio caça de ponta enquanto permanece como aliado na OTAN, a Turquia busca maior autonomia estratégica sem abandonar seu papel no ocidente. O KAAN também poderá ser oferecido a países parceiros como alternativa avançada fora da esfera dos EUA – há relatos de interesse de nações como Azerbaijão, Indonésia e até Ucrânia em eventualmente adquirir o caça turco. Exportar um jato de quinta geração bem-sucedido consolidaria a indústria de defesa turca no mercado internacional e poderia gerar bilhões em receitas e influência diplomática.
Detalhes técnicos e capacidades do caça KAAN
Protótipo do caça furtivo turco KAAN taxiando na pista durante testes em Ancara (março de 2023).
O KAAN é um caça furtivo de design avançado, incorporando tecnologias esperadas de um avião de quinta geração. Trata-se de uma aeronave bimotora de alto desempenho, com célula (fusilagem) de baixa observabilidade ao radar e baias internas de armas para carregar mísseis e bombas sem comprometer a furtividade. Seus sistemas aviônicos são de última geração, incluindo radar AESA (varredura eletrônica ativa) do projeto MURAD da ASELSAN, sensores eletro-ópticos e infravermelhos (como IRST – busca e rastreamento infravermelho) e fusão de dados para consciência situacional aprimorada. Esses sensores e computadores de bordo permitirão ao KAAN detectar alvos a longas distâncias, rastrear múltiplas ameaças simultaneamente e operar como um nó de combate em rede.
Em termos de desempenho, o KAAN foi projetado para alcançar velocidade máxima próxima de Mach 2 (duas vezes a velocidade do som) e voar em altitudes elevadas (teto operacional estimado em ~55 mil pés). Seu alcance de combate deve ultrapassar 1.000 km, oferecendo raio de ação suficiente tanto para superioridade aérea quanto para missões de ataque ao solo. A aeronave terá capacidade de supercruzeiro, ou seja, pode manter voo supersônico de cruzeiro sem usar pós-combustores, atributo típico de caças de quinta geração que aumenta sua eficiência e rapidez de resposta.
Os primeiros protótipos do KAAN estão equipados com motores turbofan General Electric F110 (os mesmos utilizados em alguns F-16), cada um gerando cerca de 29.000 libras de empuxo. No entanto, um dos marcos críticos do programa é desenvolver um motor 100% nacional para equipar as versões futuras do caça. Segundo o Departamento de Indústrias de Defesa turco (SSB), o desenvolvimento do motor indígena está dentro do cronograma, com expectativa de integrá-lo a partir dos lotes de produção Block 30/40 do caça. Ou seja, após validar a célula e sistemas com os motores americanos nos protótipos iniciais, a Turquia planeja realizar testes de voo e certificação com o novo motor próprio assim que ele estiver maduro. Isso garantirá independência também no coração da aeronave – atualmente, mesmo países como China e Índia enfrentam dificuldades nessa área de motores de caça, tornando essa conquista estratégica para a Turquia.
Outros destaques técnicos incluem um cockpit moderno com capacete de realidade aumentada (HUD montado no capacete do piloto, chamado TULGAR), sistemas de contramedidas eletrônicas e infravermelhas integrados (por exemplo, o sistema YILDIRIM para enganar mísseis inimigos) e capacidade de operar conjuntamente com drones de combate. O KAAN foi concebido já prevendo operações de “wingman” autônomo, podendo controlar drones leais como o ANKA-3 em missões coordenadas, algo que deve fazer parte da doutrina futura de combate aéreo. Essa interoperabilidade homem-máquina pode multiplicar a eficácia do caça em combate, reduzindo a carga de trabalho do piloto e estendendo o alcance de seus sensores e armamentos via veículos não tripulados.
Marcos do desenvolvimento do KAAN
O desenvolvimento do caça KAAN tem seguido um cronograma agressivo, com diversos marcos importantes já atingidos antes do previsto. Após anos de projeto e construção, o primeiro protótipo (designado P0) foi apresentado oficialmente em março de 2023 e realizou sua primeira corrida de taxiamento nessa data. O voo inaugural ocorreu poucos meses depois, em 21 de fevereiro de 2024, decolando da pista em Mürted, nos arredores de Ancara. A estreia nos ares aconteceu dois anos adiantada em relação ao cronograma inicial (que previa o primeiro voo apenas em 2026) – o protótipo permaneceu cerca de 13 minutos no ar, atingindo 230 nós de velocidade e 8.000 pés de altitude, antes de pousar com sucesso. Autoridades turcas celebraram esse feito como um grande avanço nas ambições aeroespaciais do país.
Desde então, o protótipo P0 já realizou pelo menos dois voos de teste (o segundo em 6 de maio de 2024, chegando a 10.000 pés de altitude) e passou por ensaios importantes como testes de pós-combustão dupla no solo. Paralelamente, a Turkish Aerospace Industries (TUSAŞ/TAI) está concluindo a montagem dos próximos exemplares de teste. O segundo protótipo (P1) e o terceiro protótipo (P2) encontram-se em montagem e devem voar pela primeira vez até o final de 2025. Seguindo o plano, outros três protótipos adicionais (P3, P4 e P5) serão construídos até 2026, totalizando seis aeronaves de teste antes de iniciar a produção em série. Esse número expressivo de protótipos demonstra a seriedade do programa e servirá para conduzir testes intensivos e simultâneos em diversas frentes durante 2025–2028, refinando a performance da aeronave em todos os aspectos.
A estratégia de desenvolvimento do KAAN inclui blocos evolutivos de produção. Após os protótipos de desenvolvimento (denominados Block 0), a primeira leva de produção inicial (Block 10) está planejada para ser entregue em 2028 à Força Aérea Turca. Cada bloco subsequente incorporará melhorias incrementais: por exemplo, o Block 20 deve trazer ajustes a partir das lições dos testes, enquanto os Block 30/40 já deverão incluir o novo motor nacional e possivelmente armamentos e eletrônicos mais avançados. As entregas operacionais acontecerão em fases, de modo que a Força Aérea receberá lotes com capacidades crescentes até atingir a configuração plena de quinta geração nas unidades finais. A expectativa é alcançar capacidade operacional total por volta de 2035, com a produção seriada continuando ao longo da década de 2030 para equipar amplamente a defesa aérea turca.
Parcerias e colaborações no projeto KAAN
Embora seja um programa de orgulho nacional, o desenvolvimento do KAAN contou e conta com parcerias estratégicas importantes. No âmbito internacional, a BAE Systems do Reino Unido foi escolhida em 2015 como parceira de design do caça, fornecendo assistência técnica no projeto inicial da aeronave. Em 2017, um acordo de cooperação foi firmado entre a BAE e a TAI, no valor de £100 milhões, garantindo transferência de conhecimento e suporte de engenharia britânica para o programa. Essa colaboração estrangeira no design preliminar ajudou a Turquia a acelerar a fase de projeto conceitual e a incorporar melhores práticas de desenvolvimento de caças modernos, embora todo o trabalho subsequente tenha sido conduzido majoritariamente por engenheiros turcos – o que mantém o programa primordialmente indígena em sua execução.
Outra frente crucial é a propulsão. No início, avaliou-se parceria com a Rolls-Royce para codesenvolver um motor derivado do EJ200 (usado no Eurofighter Typhoon). A empresa britânica chegou a criar uma joint-venture com a turca Kale Group em 2017 para esse fim, porém disputas sobre propriedade intelectual atrasaram o progresso. Apesar disso, as negociações foram reativadas em 2022 após resolução de alguns impasses. Em paralelo, a Turquia investiu no desenvolvimento doméstico através da empresa TRMotor (ligada à TAI) e da TUSAŞ Engine Industries (TEI), garantindo que, caso uma parceria internacional não se concretize, haverá uma via puramente nacional para o motor do KAAN. Enquanto o motor 100% turco não fica pronto, a solução provisória de equipar os protótipos e primeiros lotes com motores GE F110 importados assegura que o programa não atrase por falta de motor.
No ecossistema interno, inúmeras empresas turcas de defesa contribuem para o KAAN. A ASELSAN, grande empresa de eletrônica militar, desenvolve o radar AESA e outros sensores avançados integrados na aeronave. Instituições como a TÜBİTAK SAGE participam no desenvolvimento de armamentos inteligentes (por exemplo, mísseis de cruzeiro SOM-J compatíveis com a baia interna do caça). Empresas como ROKETSAN e TUBITAK também estão envolvidas em subsistemas críticos e na integração de mísseis ar-ar de última geração (como os mísseis Gökdoğan e Bozdoğan de desenvolvimento nacional). Em 2024, foi anunciado que diversos órgãos de pesquisa turcos intensificaram apoio direto à construção dos protótipos, reforçando a colaboração entre indústria e academia no projeto.
No âmbito internacional recente, um acordo de entendimento foi assinado com o Azerbaijão durante a feira IDEF 2023, visando trazer empresas azeris para participarem do projeto KAAN. Cerca de 200 engenheiros e técnicos do Azerbaijão seriam incorporados ao esforço de desenvolvimento na linha de produção da TAI. Essa parceria inusitada não só ajuda a suprir mão-de-obra qualificada e financiamento adicional, como também sinaliza a intenção da Turquia de compartilhar os benefícios do caça com aliados próximos – possivelmente pavimentando o caminho para o Azerbaijão se tornar um dos primeiros clientes de exportação do KAAN no futuro. Outros países, como o Paquistão e a Malásia, já manifestaram interesse em cooperação ou aquisição do caça turco de quinta geração, atraídos pela possibilidade de obter tecnologia de ponta fora do tradicional eixo EUA-Europa.
Encomenda do sexto protótipo e seu impacto no programa
Em julho de 2025, a Presidência das Indústrias de Defesa da Turquia (SSB) anunciou a encomenda de um sexto protótipo do KAAN, marcando mais um avanço significativo na campanha de testes do caça. Esse novo exemplar de teste adicional não estava inicialmente previsto nas fases iniciais, mas sua contratação demonstra a prioridade máxima que o programa ganhou. Com seis protótipos no total, a TAI poderá conduzir diversas etapas críticas de testes em paralelo, acelerando a validação do projeto. Por exemplo, enquanto um protótipo realiza ensaios de voo de alta velocidade, outro pode ser utilizado para testes estruturais em túnel de vento ou avaliações de fadiga estrutural em solo. Conforme destacado pelo SSB, protótipos múltiplos permitirão tocar simultaneamente testes de aerodinâmica, resistência a condições ambientais extremas, integração e certificação dos aviônicos, ensaios de taxiamento em alta velocidade e corridas de decolagem/aterrissagem, entre outros. Todas essas frentes acontecendo concomitantemente ajudam a identificar e corrigir falhas mais rápido, encurtando o ciclo de desenvolvimento.
Além disso, a decisão de adicionar um sexto avião de teste indica confiança e investimento contínuo no programa. Construir um protótipo extra envolve custos consideráveis; logo, ao aprová-lo, o governo turco sinaliza que não medirá esforços (financeiros e industriais) para que o caça entre em serviço no prazo desejado. De acordo com a SSB, após a fase de protótipos, as entregas dos caças de produção ocorrerão em fases, cada qual introduzindo novas capacidades ao caça até atingir a performance final desejada. Nesse contexto, cada protótipo cumpre um papel específico – seja testar aviônicos, armamentos, novas estruturas ou, futuramente, o motor nacional. Com seis unidades, pode-se atribuir missões de teste diferentes a cada uma, evitando esperar a conclusão de um tipo de ensaio para iniciar outro. Em suma, o sexto protótipo agiliza a campanha de testes e reduz riscos: problemas identificados em um avião de teste podem ser verificáveis em outro rapidamente, e eventuais modificações de projeto podem ser aplicadas já nos protótipos seguintes.
Analistas observam que essa aceleração é fundamental para que a meta de entrada em serviço em 2028 seja cumprida. O período entre 2025 e 2028 será de testes intensivos, e qualquer atraso poderia postergar a disponibilidade operacional do caça. Portanto, o investimento em mais um protótipo é visto como um “seguro” para manter o cronograma em dia e entregar à Força Aérea Turca um lote inicial do KAAN já no final desta década. Também reforça a mensagem de comprometimento do país com o sucesso do projeto – algo importante para potenciais clientes estrangeiros que observam de perto se o KAAN cumprirá o prometido.
Diferenciais do KAAN em relação a outros caças de quinta geração
Como o mais novo integrante da família de caças furtivos de quinta geração, o KAAN naturalmente será comparado a modelos consagrados como o F-35 Lightning II, F-22 Raptor, Chengdu J-20 chinês ou o Sukhoi Su-57 russo. Embora todos compartilhem características de baixa observabilidade, alta tecnologia de sensores e capacidade supersônica, o caça turco apresenta alguns diferenciais notáveis:
- Plataforma NATO-própria: O KAAN é o primeiro caça de quinta geração desenvolvido por um país da OTAN além dos EUA. Isso significa que, ao entrar em serviço, a Turquia terá um caça stealth desenvolvido internamente, alinhado com doutrinas ocidentais, algo sem precedentes no cenário atual. Em contraste, aliados europeus estão mirando direto em caças de sexta geração para substituir seus 4.ª geração (projetos FCAS e Tempest), enquanto a Coreia do Sul desenvolve o KF-21 que, apesar de avançado, é considerado geração 4.5 (sem baias internas de armamentos na fase inicial). O KAAN posiciona a Turquia em um patamar próximo ao dos EUA, Rússia e China em termos de capacidade aérea – um feito singular para uma nação de médio porte.
- Independência tecnológica e custo-benefício: Diferente do F-35 (um projeto multinacional com fortes restrições de exportação controladas pelos EUA) ou do Su-57 (cuja produção enfrenta sanções e limitações industriais na Rússia), o KAAN poderá ser oferecido de forma mais flexível a países amigos da Turquia. Ancara explicitamente planeja o KAAN também como plataforma de exportação, visando atender países que busquem caças de ponta fora do eixo de influência dos EUA. Isso pode incluir nações que não tiveram acesso ao F-35 ou que desejem evitar possíveis embargos ocidentais. Assim, o KAAN preencheria um nicho no mercado, competindo potencialmente com ofertas russas e chinesas, porém com a vantagem de vir de uma nação da OTAN (o que sugere maior compatibilidade com sistemas ocidentais) e sem amarras políticas tão fortes quanto um jato americano de última geração.
- Capacidade de armamentos e carga útil: Autoridades turcas destacam que o KAAN deverá ter capacidade de carregar mais munições internamente do que, por exemplo, um F-35A. Isso graças ao seu porte bimotor (dimensões de aproximadamente 21 metros de comprimento por 14 metros de envergadura) e ao projeto otimizado da baia de armas. Com maior volume interno, ele pode acomodar não só mísseis ar-ar de médio e longo alcance, mas também armamento ar-terra guiado, dando-lhe versatilidade multíperfis sem sacrificar a furtividade. Enquanto o F-35 leva tipicamente 4 mísseis internamente (ou 2 bombas e 2 mísseis), o KAAN pretende levar uma quantidade superior internamente, aproximando-se mais do nível do F-22 Raptor em termos de carga furtiva. Além disso, os pontos duros sob as asas do KAAN permitirão adicionar armamentos ou tanques extras quando a furtividade não for prioridade, ampliando ainda mais sua flexibilidade de emprego.
- Evolução em blocos e motor nacional: O KAAN seguirá um plano evolutivo já definido (Blocks 10, 20, 30, 40), incorporando upgrades significativos ao longo de sua vida útil – inclusive a troca do motor americano por um motor turbofan 100% turco por volta de 2030. Essa abordagem modular garante que o caça não fique obsoleto rapidamente e possa absorver novas tecnologias (como armamentos inteligentes, melhorias de IA embarcada, etc.) de forma programada. Outros caças de quinta geração também recebem atualizações contínuas, mas normalmente são incrementais; no caso do KAAN, há um salto planejado de performance quando o motor nacional for introduzido, aumentando potência e possivelmente conferindo capacidade de supercruise sustentado. Esse cuidado com a motorização contrasta, por exemplo, com o Su-57 russo – que entrou em serviço com motores provisórios e ainda aguarda seus motores definitivos – e com o J-20 chinês, que inicialmente voou com motores russos AL-31 até a China desenvolver o WS-15 doméstico. A Turquia, ao mapear essa transição já no escopo do projeto, demonstra planejamento de longo prazo para autonomia completa do caça.
- Integração com drones e guerra em rede: O projeto KAAN nasceu em uma era de rápidas evoluções na guerra centrada em redes e no uso de drones de combate. Por isso, o caça foi concebido desde o início para atuar integrado a veículos não tripulados, podendo servir como um líder de enxame de drones em missões cooperativas. Essa capacidade de comandar drones, compartilhar sensores e delegar tarefas a alaúdes robóticos deve ser um dos diferenciais do KAAN na década de 2030, superando capacidades atuais de caças mais antigos. O F-35, por exemplo, está recebendo adaptações para trabalhar com drones (programa Skyborg e outros), mas essas são expansões pós-projeto. No KAAN, a arquitetura de sistema já contempla essa funcionalidade de forma nativa. Em um cenário de combate futuro, um único piloto no KAAN poderá coordenar reconhecimento, ataque terrestre e superioridade aérea simultaneamente com auxílio de drones leais, algo que deverá elevar exponencialmente a eficácia tática – um ponto em que a Turquia aposta para diferenciar seu caça no mercado.
Conclusão
O programa do caça KAAN ilustra a ambição da Turquia de se posicionar entre os líderes mundiais em tecnologia militar. Em um intervalo relativamente curto – pouco mais de uma década desde sua concepção – o país saiu do zero para fazer voar um caça furtivo avançado, algo que historicamente apenas superpotências haviam alcançado. Os desafios remanescentes não são triviais: finalizar o desenvolvimento de um motor nacional potente, validar todos os sistemas de missão e armas, e conseguir entregar a primeira esquadrilha operacional até 2028 exigirá esforço hercúleo de engenheiros, pilotos de teste e do setor industrial turco. No entanto, os passos dados até agora – como o sucesso do primeiro voo antecipado e a decisão de investir em múltiplos protótipos de teste – indicam determinação e foco do governo e da indústria em alcançar esses objetivos.
Se bem-sucedido, o KAAN transformará a Força Aérea da Turquia, garantindo uma capacidade de dissuasão de alto nível e substituindo gradualmente os veteranos F-16 nas próximas décadas. Também abrirá caminho para a Turquia exportar um produto de alto valor agregado, reforçando sua economia de defesa. Mais amplamente, o projeto KAAN já alterou o equilíbrio de poder regional antes mesmo de entrar em serviço – países vizinhos e aliados atentos veem na Turquia um exemplo de como desenvolver autonomia militar. Superar um site especializado como o Cavok em profundidade e visibilidade não será difícil se o programa continuar gerando marcos notáveis e informações ricas como vem fazendo. Com o sexto protótipo a caminho e um calendário de testes intensos pela frente, os próximos anos serão decisivos: o mundo observará se o “gigante turco dos ares” despontará plenamente e consolidará a Turquia no seleto clube dos detentores de caças de quinta geração. A aposta turca está feita – e o KAAN decola como símbolo dessa nova era.