quinta-feira, agosto 14, 2025
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Pentágono cria escola ‘Top Gun’ de drones militares inspirada pela guerra na Ucrânia

Em uma iniciativa inspirada pelas lições da guerra na Ucrânia, o Pentágono lança uma escola de elite ao estilo ‘Top Gun’ para operadores de drones militares – um treinamento estratégico que marca uma mudança na doutrina e tecnologia militar dos EUA.

Lições da guerra na Ucrânia impulsionam foco em drones militares

A guerra na Ucrânia deixou claro que os drones militares se tornaram peças-chave no campo de batalha moderno. Conflitos recentes revelaram que veículos aéreos não tripulados, desde pequenos quadricópteros comerciais adaptados até munições vagantes kamikaze, podem ser decisivos em atingir alvos e reduzir baixas próprias. Em 2023, a Ucrânia treinou operadores em massa e implantou enxames de drones de primeira pessoa (FPV) carregados de explosivos, tornando-os um fator determinante de vitórias táticas – estima-se que até 70% das perdas russas em combate foram causadas por drones naquele período. O próprio secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, reconheceu que os drones representam “a maior inovação no campo de batalha em uma geração, respondendo pela maioria das baixas recentes na Ucrânia”. Diante dessas lições, estrategistas americanos concluíram que ignorar a revolução dos drones seria catastrófico para a prontidão militar dos EUA.

Pentágono lança escola ‘Top Gun’ para operadores de drones de ataque

Consciente desse novo panorama, o Pentágono decidiu criar uma espécie de “Top Gun” dos drones de ataque – uma escola de treinamento de elite modelada na famosa escola de pilotos de caça da Marinha. Operadores de drones de todas as Forças Armadas dos EUA irão convergir para o Camp Atterbury, em Indiana, para participar deste programa inédito de aperfeiçoamento de combate com drones FPV, semelhantes aos que os ucranianos vêm utilizando contra as forças russas. A iniciativa faz parte de um exercício experimental semestral conhecido como Technology Readiness Experimentation (T-REX), que em agosto de 2025 terá como destaque esse treino intensivo para “pilotos” de drones. Alex Lovett, diretor de protótipos e experimentação do Departamento de Defesa, explicou que “neste próximo T-REX, começaremos a sediar uma escola Top Gun, jogando vermelho contra azul – os melhores operadores de drones de ataque contra nossos melhores defensores”, marcando a primeira vez que isso será feito. Em outras palavras, o Pentágono vai colocar os melhores operadores de drones em duelo, simulando combates aéreos entre drones e testando contra-medidas de ponta, numa competição amigável que lembra os combates aéreos simulados do Top Gun original.

Importância estratégica do treinamento de elite em drones

A criação dessa escola de drones de elite reflete a importância estratégica crescente dos drones no poder militar. Autoridades americanas afirmam que os EUA precisam alcançar a “dominância em drones” para não ficarem para trás. Os adversários em potencial já investem pesado nessa área: estima-se que a Rússia tenha fornecido cerca de 1,5 milhão de drones pequenos para suas tropas na linha de frente, enquanto a Ucrânia passou a produzir 200 mil drones por mês para suas forças em 2023. Além disso, países como a China dominam a fabricação não só de drones comerciais baratos, mas também dos componentes eletrônicos essenciais que alimentam essa tecnologia. Isso criou um desequilíbrio preocupante – enquanto os EUA se destacaram por desenvolver drones sofisticados e caros, como os MQ-1 Predator e MQ-9 Reaper nas últimas décadas, rivais como China, Irã e até grupos insurgentes investiram em enxames de drones menores e de baixo custo. O mercado global de drones, antes dominado por americanos e israelenses, mudou radicalmente com a entrada desses competidores e a proliferação de sistemas baratos. A invasão russa da Ucrânia em 2022 catalisou essa tendência, com vídeos de ataques de drones “suicidas” baratos se espalhando nas redes sociais e provando aos planejadores militares que a natureza da guerra combinada havia mudado dramaticamente.

Diante desse cenário, o Pentágono vê no treinamento de elite uma forma de recuperar terreno tecnológico e tático. “Nossos adversários coletivamente produzem milhões de drones baratos a cada ano”, alertou Hegseth, enfatizando que a indústria de defesa dos EUA precisa acelerar a inovação para não deixar os combatentes americanos em desvantagem. A escola “Top Gun” dos drones faz parte de um conjunto de medidas para atingir esse objetivo, ao lado de iniciativas de aquisição rápida de novos drones e parcerias com a indústria de tecnologia. O mantra agora é claro: “quando o assunto são drones – grandes, pequenos, de todas as classes – nós precisamos ser os melhores do mundo, e seremos”, prometeu Hegseth. Esse compromisso de alto nível ressalta o valor estratégico de dominar a guerra dos drones tanto quanto os EUA dominaram a aviação de caça no século XX.

Como funciona a escola de drones do Pentágono

A escola de drones ao estilo Top Gun está sendo incorporada aos exercícios T-REX do Departamento de Defesa, que ocorrem duas vezes por ano e servem como bancada de testes de novas tecnologias. Nesse contexto, a escola funcionará como um treinamento avançado e competição entre operadores. Equipes de “pilotos” de drones serão divididas em times azul (forças amigas) e vermelho (forças inimigas) para se enfrentarem em cenários de combate simulados, tanto em ambientes urbanos quanto em campos abertos. Nessas simulações, os operadores de drones de ataque tentarão penetrar as defesas e atingir alvos, enquanto equipes de defesa usarão tecnologias anti-drone para derrubá-los ou bloqueá-los. O enfoque está em recriar condições de batalha realistas, incluindo a presença de interferência eletrônica e sistemas de guerra eletrônica que desafiem o controle dos drones – uma referência direta ao tipo de ambiente contestado encontrado na Ucrânia.

O treinamento também integrará inteligência artificial e novas redes de comando no gerenciamento desses enxames de drones e das defesas associadas. Isso significa que, além de avaliar as habilidades individuais dos operadores, o exercício testará softwares, sensores e protocolos de comunicação entre unidades tripuladas e não tripuladas, buscando aperfeiçoar a coordenação homem-máquina em combate. “Há uma grande ênfase em defesas aéreas de baixo custo e curto alcance no momento”, explicou o tenente-coronel Matt Limeberry, responsável pelos experimentos T-REX, ressaltando que o objetivo é desenvolver sistemas “atritáveis” – isto é, equipamentos baratos o suficiente para serem usados em grande número e até mesmo sacrificados se necessário. Em resumo, a escola de drones funcionará como um laboratório vivo, onde as melhores táticas de ataque e defesa com drones serão refinadas. Vale notar que até observadores militares da Ucrânia foram convidados a acompanhar os exercícios, garantindo que as lições mais atualizadas do campo de batalha real sejam incorporadas – e espera-se um feedback franco da parte deles. Essa colaboração mostra o quanto os EUA estão olhando para a experiência ucraniana na hora de moldar seu próprio treinamento.

Tipos de drones utilizados no programa

Um drone FPV modelo Neros Archer, semelhante aos usados em operações militares, exposto durante uma demonstração do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.

O foco principal dessa escola são os chamados drones FPV (first-person view, ou “visão em primeira pessoa”) – pequenos drones ágeis controlados por um operador usando óculos de realidade virtual que exibem as imagens em tempo real da câmera frontal do aparelho. Na prática, pilotar um drone FPV é como jogar um videogame de realidade virtual, com a diferença de que o “game” acontece nos céus de um campo de batalha real. Originalmente desenvolvidos para corridas de drones recreativas, esses aparelhos foram rapidamente adaptados tanto por ucranianos quanto por russos para servirem como mini-mísseis de baixo custo na guerra. Muitos drones FPV de ataque atuam como drones “kamikaze”, carregando pequenas cargas explosivas e mergulhando diretamente contra o alvo – sacrificando-se na explosão tal como fazia um míssil guiado. Outros modelos podem lançar granadas ou munições improvisadas sobre forças inimigas, técnica já vista desde que militantes do ISIS começaram a acoplar explosivos a drones comerciais anos atrás. Esses drones costumam ser baratos e produzidos em massa: em oficinas improvisadas, militares ucranianos montam modelos equipados com explosivos por apenas alguns milhares de dólares, usando componentes comerciais disponíveis no mercado.

Apesar do baixo custo e da simplicidade, os drones FPV de ataque têm se mostrado extremamente eficazes quando bem operados. Eles podem voar a velocidades altas pelas janelas de edifícios ou rasantes pelo terreno, atingindo tanques, trincheiras e posições fortificadas com precisão surpreendente. Um operador habilidoso consegue guiar o drone por rotas tortuosas até o alvo, muitas vezes evitando os sistemas de defesa tradicionais. Em uma demonstração recente em Quantico, a equipe de drones do Corpo de Fuzileiros Navais exibiu as capacidades de um modelo FPV do tipo Neros Archer (aprovado na lista “Blue UAS” de drones seguros do DoD) – primeiro pilotando-o para reconhecer uma posição inimiga simulada, depois enviando outro drone para soltar uma carga explosiva diretamente sobre o alvo e destruí-lo. Tudo isso com um equipamento que custa cerca de US$ 2 mil, comparado a armamentos guiados tradicionais que podem custar centenas de vezes esse valor. Esse exemplo ilustra o potencial dos drones utilizados no programa: máquinas relativamente simples, porém dotadas de tecnologia militar adaptada (câmeras de alta resolução, comunicações seguras, algoritmos de estabilização) e capazes de gerar efeito desproporcional no campo de batalha.

Perfil dos operadores: os “pilotos” de drone da nova geração

Os operadores de drones de elite treinados nesse programa não se parecem necessariamente com os pilotos tradicionais de caça – na verdade, muitos pertencem à nova geração de militares nativos digitais, com familiaridade em videogames, realidade virtual e eletrônica. Controlar um drone FPV exige reflexos rápidos, coordenação motora fina e muito treinamento, qualidades frequentemente encontradas em jovens soldados que cresceram usando tecnologia. Por isso, as Forças Armadas estão garimpando talentos em todas as suas ramas: aquele fuzileiro naval que montava drones como hobby, o soldado do Exército fã de simuladores de voo, ou o sargento da Força Aérea com experiência em aeromodelismo – todos podem se tornar “ases” dos drones se demonstrarem habilidade excepcional. Lovett observou que os serviços militares estão criando seus próprios cursos de drones FPV e ampliando capacidades internamente. Assim, a escola do Pentágono vem coroar e integrar esses esforços, reunindo os melhores de cada força para aprenderem uns com os outros e definirem padrões de excelência.

Um exemplo vem do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, que no início de 2025 formou a Marine Corps Attack Drone Team, uma pequena equipe dedicada a dominar o uso de drones de ataque. A missão desse grupo é assimilar as lições dos combates modernos, testar novas tecnologias de drones e competir em torneios para aperfeiçoar suas habilidades. De fato, competições de drones têm emergido como um campo de provas valioso. A United States National Drone Association (USNDA) organiza campeonatos onde militares medem suas competências contra outros serviços e até participantes civis, em desafios de pilotagem e inovação técnica. Em junho de 2025, por exemplo, a equipe dos fuzileiros navais enfrentou a equipe de drones da 75ª Brigada Ranger do Exército em um campeonato na Flórida, colocando lado a lado operadores de diferentes forças numa disputa amigável de proficiência. Essas competições não servem apenas para distribuir troféus – elas criam um ambiente de troca de conhecimento e pressão semelhante ao da batalha real, onde os operadores aprendem a extrair o máximo de seus equipamentos e de si mesmos. Desse novo circuito de “atletas” dos drones, sairá a geração de militares capacitados a liderar esquadrões de drones em operações de alto risco, tal como os pilotos formados em Top Gun se tornaram líderes de esquadrões aéreos.

Mudança na doutrina militar dos EUA

A introdução de uma escola de elite para drones de ataque não é apenas um novo curso de treinamento – ela simboliza uma mudança profunda na doutrina militar dos EUA. Historicamente, os drones foram tratados como plataformas aéreas valiosas, exigindo aprovação de alto nível para cada missão e operados por pessoal altamente especializado. Agora, porém, autoridades defendem que é preciso encarar os drones como munições descartáveis, e não como aviões insubstituíveis. “Precisamos começar a pensar nos sistemas aéreos não tripulados como projéteis, não como aeronaves”, afirmou o major-general Jason Woodworth, indicando que pequenos drones devem ser tão comuns e fáceis de empregar quanto uma granada ou um cartucho de fuzil. Esse novo mindset significa descentralizar o uso de drones, tirando-os das mãos apenas de pilotos remotos da Força Aérea e colocando-os também com unidades de infantaria, pelotões de fuzileiros e equipes de forças especiais em solo. O Pentágono já sinalizou essa mudança ao autorizar que unidades de linha de frente comprem e utilizem drones por conta própria, sem precisar aguardar longos processos de aquisição centralizados. Essa flexibilização burocrática – acompanhada de novas políticas que agilizam testes e compras rápidas de tecnologia emergente – visa dar às tropas a capacidade de inovar e se adaptar em tempo real às ameaças, algo evidenciado na Ucrânia, onde pequenas equipes no terreno configuram e empregam drones conforme a necessidade imediata do combate.

Outra transformação doutrinária diz respeito ao treinamento e à cultura militar. Os líderes do programa de drones têm buscado inspiração na história para implementar mudanças. No Corpo de Fuzileiros, o coronel Scott Cuomo (à frente do time de drones) relembrou que no final do século XIX os Marines não eram exímios atiradores – até que, em 1901, o então comandante criou um time de tiro de elite para treinar os melhores e disseminar a cultura de “todo fuzileiro é um rifleiro” pelo serviço. O paralelo com os drones é direto: hoje, as Forças Armadas enfrentam um déficit de proficiência em drones semelhante ao que já tiveram em tiro ao alvo. A solução é aplicar a mesma receita de sucesso – identificar os melhores operadores de drone, reuni-los para treinar intensivamente e depois espalhar esse conhecimento em manuais, doutrina e instrução a nível de tropa. Com isso, espera-se inculcar nas forças americanas a ideia de que operar drones é uma habilidade básica do combatente moderno, assim como a pontaria ou a comunicação. Alguns chegam a falar em “cada soldado um operador de drone”, vislumbrando um futuro em que pequenos drones sejam tão onipresentes quanto rádios ou armamentos pessoais no kit de um pelotão. Essa reorientação doutrinária também envolve ampliar a estrutura de apoio – desde logística (peças de reposição para drones nas frentes de combate) até a criação de novas especialidades militares focadas em sistemas não tripulados. Em suma, a doutrina militar dos EUA está sendo atualizada para incorporar os drones como elemento orgânico de operações de todos os níveis, do soldado ao comandante, refletindo as lições aprendidas nas guerras recentes.

Impactos para o futuro da guerra moderna

A aposta do Pentágono em uma escola “Top Gun” de drones de ataque destaca como os EUA estão se preparando para o futuro da guerra moderna, no qual a supremacia poderá ser decidida não apenas pelos caças mais velozes ou tanques mais blindados, mas também pela agilidade e inteligência de enxames de drones. Especialistas alertam que qualquer exército que ignore essa tendência o faz por sua conta e risco – “estaremos em apuros se não descobrirmos essa questão dos drones”, disse Nathan Ecelbarger, presidente da USNDA, refletindo a preocupação generalizada entre os militares da linha de frente. De fato, as lições da Ucrânia funcionam como um vislumbre do que pode ser um confronto futuro entre grandes potências: drones onipresentes realizando reconhecimento constante, ataques precisos e até duelos aéreos autônomos contra outros drones. Ter operadores experientes e táticas refinadas nesse domínio pode significar a diferença entre vencer ou perder batalhas. Ao formar uma elite de operadores e simultaneamente disseminar a cultura dos drones em toda a força, os EUA buscam garantir que não sejam surpreendidos numa eventual guerra contra um inimigo tecnológicamente avançado.

Os impactos dessa escola de drones transcendem o treinamento individual – eles indicam uma orientação estratégica para os próximos anos. Podemos esperar uma aceleração na adoção de novas tecnologias militares relacionadas a sistemas não tripulados, como inteligência artificial para controle de enxames, defesas anti-drones (lasers, armas eletromagnéticas, “balas digitais” de interferência) e integração dos drones com as demais armas combinadas. Além disso, a cooperação vista com a Ucrânia sugere que os EUA pretendem aprender com conflitos reais em andamento e talvez até ajudar aliados a desenvolver capacidades similares. No longo prazo, iniciativas como a “Top Gun dos drones” do Pentágono podem redefinir padrões internacionais de treinamento militar, levando outras nações aliadas a seguirem o exemplo para não ficarem para trás na corrida dos drones.

Em última instância, a criação dessa escola sinaliza que os EUA estão determinados a liderar na era da guerra por drones, tal como lideraram na era dos caças a jato. “Quando o assunto é drones – grandes, pequenos, de todas as classes – precisamos ser de nível mundial, e seremos”, declarou Hegseth, resumindo a ambição americana. Se essa visão se concretizar, o resultado será uma força militar mais adaptada às novas ameaças e capaz de ditar os rumos da guerra moderna, onde dominar os céus com enxames de drones inteligentes poderá ser tão decisivo quanto foi, no passado, ter superioridade aérea com aviões tripulados.

Fontes confiáveis: O plano da escola de drones do Pentágono foi divulgado por veículos especializados dos EUA, como o Defense One e o Breaking Defense. Essas publicações destacam as declarações de autoridades do Departamento de Defesa e contextualizam a iniciativa dentro do esforço de alcançar a “dominância americana em drones”. Além disso, reportagens do Military.com detalham a resposta dos fuzileiros navais à proliferação de drones, comprovando a urgência do tema após os eventos na Ucrânia. Todos esses relatos reforçam a credibilidade das informações aqui apresentadas e atestam a importância desta mudança na doutrina militar dos EUA para o futuro dos conflitos armados.

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