domingo, julho 27, 2025
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CGEE divulga pesquisa sobre diversidade racial na pós-graduação no Brasil.

O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) divulgou, na última terça-feira (15), um capítulo especial sobre cor ou raça do estudo Brasil: Mestres e Doutores 2024. A publicação examina a evolução das titulações de mestrado e doutorado de 1996 a 2021, abordando as desigualdades raciais presentes no sistema de pós-graduação e no mercado de trabalho formal no Brasil. Os dados inéditos foram apresentados durante a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre até sexta-feira (18) na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife (PE).

Os dados foram discutidos em uma mesa redonda sobre “Diversidade racial da pós-graduação brasileira – avanços e desafios”, coordenada pelo diretor-presidente do CGEE, Fernando Rizzo. Também participaram a coordenadora do estudo, Sofia Daher, e as professoras Luciana Conceição de Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Rosana Baeninger, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O estudo revela que, embora tenha aumentado o número de mestres e doutores que se declararam pretos, pardos e indígenas, a maioria das titulações ainda está nas mãos da população branca. Entre 1996 e 2021, 49,5% dos títulos de mestrado e 57,8% dos doutorados foram concedidos a pessoas brancas. Os pretos representam apenas 4,1% dos mestres e 3,4% dos doutores, enquanto os pardos somam 16,7% e 14,9%, respectivamente. Os indígenas correspondem a apenas 0,23% e 0,3% das titulações de mestrado e doutorado, respectivamente.

A categoria “sem declaração” passou por uma redução significativa, caindo de 47,5% em 1996 para 7,9% em 2021 entre os mestres, e de 44,5% para 9,5% entre os doutores. Isso indica uma melhoria no preenchimento da variável de cor ou raça, permitindo análises mais consistentes sobre desigualdades raciais. A análise por grupo populacional revela disparidades marcantes: em 2021, havia 38,9 mestres brancos para cada 100 mil habitantes, enquanto somente 21,4 eram pretos, 16,1 pardos e 16 indígenas. No caso do doutorado, a discrepância é ainda mais acentuada: 14,5 brancos para cada 100 mil habitantes, contra cerca de 5 para pretos, pardos e indígenas.

A análise também considera as desigualdades de gênero dentro das categorias raciais. Mulheres brancas dominam as titulações, mas as mulheres pretas e pardas superaram os homens em número de títulos com um atraso de mais de uma década. No doutorado, a predominância masculina persiste entre titulados pretos e indígenas.

Em relação ao emprego formal, notou-se um crescimento significativo entre mestres e doutores pretos, pardos e indígenas, especialmente no doutorado, embora os brancos ainda dominem a maioria dos vínculos empregatícios. A administração pública estadual foi a principal empregadora de mestres pretos, pardos e indígenas, enquanto a federal liderou para doutores brancos.

As desigualdades salariais continuam a ser um desafio. Em 2021, mestres pretos recebiam em média 13,6% a menos do que mestres brancos, e entre doutores a diferença era de 6,4%. Os indígenas mostraram uma distribuição de rendimentos mais equitativa entre homens e mulheres, enquanto mulheres brancas e amarelas enfrentaram maior desigualdade salarial.

A análise regional destaca as desigualdades existentes. Regiões como o Norte e o Nordeste, com maior porcentagem de população parda e preta, mostram uma sub-representação desses grupos nas titulações. A participação da população branca nas titulações ultrapassa sua proporção populacional em todas as regiões, sendo ainda mais evidente no Centro-Oeste, onde há uma super-representação de 23,2% no doutorado.

Representatividade

Sofia Daher, coordenadora do estudo, ressalta que a participação de indivíduos pretos, pardos e indígenas está aumentando. No entanto, essa representatividade ainda é inferior à proporção desses grupos na população. “Embora a proporção na formação seja consideravelmente menor, no mercado de trabalho, pretos e pardos têm taxas de emprego que se aproximam ou até superam as dos brancos. Contudo, quando analisamos os salários, a desvantagem é evidente, com rendimentos inferiores aos da população branca, que ainda é a referência por ter as maiores remunerações entre mestres e doutores”, explica.

Ela também enfatiza que o aumento da participação de pretos e pardos na pós-graduação reflete as políticas de cotas na graduação, agora começando a repercutir na pós. No entanto, Daher observa que as assimetrias ainda são grandes e desiguais nas regiões. “Apesar dos avanços, é imprescindível fortalecer políticas públicas que possam reduzir essas desigualdades de forma mais rápida e adaptá-las ao contexto regional para facilitar o acesso de indígenas, pretos e pardos à pós-graduação e à valorização no mercado de trabalho”, conclui.

O estudo indica que, mesmo com progressos, há desafios significativos na construção de um sistema de pós-graduação mais diverso e representativo. A ampliação da coleta de dados e o uso dessas informações para a formulação de políticas públicas são essenciais para promover a equidade racial na formação de mestres e doutores no país.

Com informações do CGEE

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