sexta-feira, julho 25, 2025
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Análise revela mudanças nos padrões climáticos em todas as regiões do Brasil.

Mesmo que as metas do Acordo de Paris sejam alcançadas, todas as regiões do Brasil continuarão a enfrentar mudanças nos padrões climáticos. Essa é uma das principais conclusões sobre as tendências climáticas no país. Um gráfico no Primeiro Relatório Bienal de Transparência do Brasil à Convenção do Clima resume as 14 ameaças climáticas identificadas em cinco macrorregiões, considerando cenários de aquecimento global de 1,5°C e 2°C. Os dados incluem uma avaliação da confiabilidade de cada item.

Fonte: Primeiro Relatório Bienal de Transparência do Brasil à UNFCCC

O objetivo da síntese das informações técnico-científicas disponíveis sobre as mudanças climáticas no Brasil é auxiliar na elaboração e implementação do Plano Clima Adaptação, possibilitando que os responsáveis por diferentes setores identifiquem os riscos mais prováveis e priorizem ações e áreas de foco.

“As manifestações da mudança climática no Brasil e seu impacto nas diversas macrorregiões são significativamente distintos em comparação ao restante do mundo”, afirmou Márcio Rojas, coordenador-geral de Ciência do Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Compreender os impactos nas macrorregiões brasileiras é essencial para o desenvolvimento de ações climáticas, seja em políticas públicas ou em decisões de governo, do setor produtivo ou da sociedade”, acrescentou.

O climatologista Pablo Borges, assessor técnico da agência de cooperação alemã GIZ, destacou que “o conjunto de dados reflete a emergência climática que estamos vivendo, a qual muitos ainda não perceberam”.

Entre as tendências mais certas para o futuro, destaca-se o aumento das temperaturas e das ondas de calor em todas as macrorregiões, além do aumento da precipitação anual no Sul e de eventos de chuva extrema no Norte, Sudeste e Sul. Também há indícios de aumento das secas no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, bem como de ventos severos nessas mesmas regiões. Ademais, há uma tendência de elevação do nível do mar, temperatura do mar, ondas de calor marinhas e acidificação dos oceanos ao longo da costa brasileira.

“Os sinais de aumento de temperatura — seja média, extrema ou em ondas de calor — são apontados com alta confiança em todo o território nacional, impactando áreas como saúde, agricultura e biodiversidade”, explicou Natália D’Alessandro, especialista em Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação do projeto Ciência&Clima.

Ela ressaltou que é fundamental compreender as tendências climáticas para entender como o aquecimento global afeta diferentes regiões e setores do Brasil.

Outro sinal preocupante, destacado com grande confiabilidade pelas pesquisas científicas, é o impacto no oceano, incluindo acidificação, elevação do nível do mar e maior frequência de ondas de calor. “Essas são alterações lentas e de difícil reversão, merecendo atenção especial, dado que grande parte da população e das atividades econômicas do país estão concentradas na zona costeira”, advertiu D’Alessandro.

A síntese considerou diversas fontes e publicações relevantes sobre as mudanças climáticas observadas e futuras com foco no Brasil. A equipe técnica estabeleceu critérios para a seleção de dados e publicações.

“Adotamos uma abordagem mais qualitativa, buscando extrair da literatura as melhores conclusões possíveis dentro das limitações existentes, similar à metodologia do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima]”, explicou Borges, que comentou sobre os desafios de lidar com diferentes metodologias e incertezas.

De acordo com D’Alessandro, o uso de variadas fontes contribuiu para maior confiança nos resultados. “Em relação a cenários futuros e modelos distintos, as incertezas variam em diferentes magnitudes no Brasil, que possui dimensões continentais. Com fontes atualizadas, confiáveis e publicadas, é possível entender melhor as mudanças nas variáveis climáticas e oceânicas em cada região”, detalhou. Para divergências nas informações, foi indicada a incerteza.

Os especialistas destacam que as projeções para 1,5°C e 2°C apresentam tendências semelhantes, mas a intensidade e a frequência dos eventos variam. “Isso significa que, mesmo atingindo a meta do Acordo de Paris de 1,5²C, os sinais de mudança continuarão. A adaptação, portanto, é imprescindível nesse contexto”, concluiu D’Alessandro.

Observações – Os especialistas envolvidos na elaboração do material ressaltam que a extensão territorial do Brasil e a diversidade de seus regimes climáticos, assim como as características regionais, influenciam os resultados, especialmente em relação às chuvas. Portanto, ressaltam que pode haver disparidades regionais. “Elementos como relevo, proximidade do mar, tipos de uso do solo e dinâmicas meteorológicas específicas geram incertezas nos modelos, que apresentam resultados em escalas menores. Assim, é possível ter tendências diferentes dentro de uma mesma região”, advertiu Natália.

Um exemplo dessa complexidade é a variação de sinais dentro das macrorregiões. “As macrorregiões do Brasil são tão amplas que às vezes há sinais opostos de mudança. Para lidar com isso, estabelecemos uma marcação especial quando há discrepâncias”, ilustrou.

Ventos severos – Uma das ameaças analisadas, frequentemente negligenciada, é o aumento dos ventos severos. Este fenômeno muitas vezes se associa a eventos climáticos extremos, como tempestades intensas e ciclones extratropicais, e a rede de observação para esse fenômeno é mais limitada em comparação às chuvas e temperaturas.

Segundo Borges, os modelos climáticos ainda enfrentam dificuldades em representar adequadamente os padrões de vento extremo, aumentando a incerteza nas projeções. “Esse é um tema que merece mais atenção, especialmente diante do aumento de eventos extremos, dos riscos para as linhas de transmissão e do crescente papel da energia eólica na transição energética”, ressaltou.

Transformar conhecimento em ação é crucial. Os especialistas afirmam que a síntese gráfica facilita a comunicação e o acesso aos dados para o público leigo.

“Além do negacionismo, frequentemente lidamos com uma paralisia decorrente da incerteza”, afirmou Amorim. “O futuro é incerto em todos os âmbitos, e decisões precisam ser tomadas todos os dias. O mesmo vale para o clima. Há uma imensa quantidade de informações confiáveis disponíveis; agora, o que falta é transformar conhecimento em ação”, concluiu.

Os especialistas estão trabalhando para atualizar a próxima versão da síntese, incorporando informações mais recentes.

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