Quilombo Campo Grande: Um marco da resistência e da reforma agrária em Minas Gerais
Na manhã desta sexta-feira, 7 de março, o Complexo Ariadnópolis, localizado em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, se tornará o palco de uma entrega histórica relacionada à reforma agrária. A cerimônia contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Paulo Teixeira, que anunciarão o programa "Terra da Gente", destacando a importância da distribuição de terras para a promoção da segurança alimentar no Brasil.
O Complexo Ariadnópolis havia sido parte da Usina Ariadnópolis Açúcar e Álcool S/A, que encerrou suas atividades em 1996, deixando um legado sombrio de dívidas e obrigações não cumpridas com seus trabalhadores. Em 1998, diante da situação de abandono e da luta por direitos, estabeleceu-se o Quilombo Campo Grande, que se tornou um símbolo da resistência agrária nas últimas décadas. Atualmente, o quilombo abriga 11 acampamentos e cerca de 450 famílias, que cultivam em média 8 hectares de terra cada e produzem mais de 160 variedades de alimentos, como mandioca, feijão, milho e um renomado café sob a marca Guaií, considerada referência nacional de qualidade.
A luta pelos direitos territoriais não foi fácil. Desde a criação do quilombo, a antiga usina tentou reintegrar a posse das terras em pelo menos 11 ocasiões, sendo a última durante a pandemia de Covid-19, quando a Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano foi destruída. Esse ataque gerou uma onda de apoio à causa dos trabalhadores rurais, culminando na intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu ações de despejo durante a crise sanitária.
Atualmente, o Quilombo Campo Grande também se destaca pela atuação do Coletivo de Mulheres Raízes da Terra, que se dedica ao cultivo de sementes agroecológicas e à produção de produtos como geleias e conservas. Isso reflete uma preocupação não apenas com a produção agrícola, mas também com a preservação da cultura local e a construção de um futuro sustentável.
A cerimônia de hoje marca um passo significativo na formalização dos assentamentos, pois o Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), assinou um decreto que declara a área como de interesse social para a reforma agrária. Com isso, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) iniciará os processos para criar o Assentamento Quilombo Campo Grande, promovendo ações concretas de apoio aos trabalhadores rurais.
Perguntas e Respostas
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O que é o Quilombo Campo Grande?
O Quilombo Campo Grande é uma comunidade formada por trabalhadores rurais que resistiram à desapropriação de terras na região de Campo do Meio, em Minas Gerais, e atualmente cultivam uma extensa variedade de alimentos, simbolizando a luta pela reforma agrária. -
Quais são os principais produtos cultivados pelo Quilombo Campo Grande?
As famílias do quilombo cultivam mais de 160 tipos de alimentos, entre os quais destacam-se mandioca, feijão, hortaliças, milho e café, este último sob a marca Guaií, reconhecida pela qualidade. -
Qual o objetivo do programa "Terra da Gente"?
O programa "Terra da Gente" visa promover a reforma agrária no Brasil, incentivando a distribuição de terras para assentamentos e apoiando a agricultura familiar, visando aumentar a produção de alimentos e garantir a segurança alimentar. -
Quais foram os desafios enfrentados pelo Quilombo Campo Grande?
Desde sua criação, o Quilombo enfrentou diversas tentativas de reintegração de posse por parte da antiga usina, incluindo ações arbitrárias, como a destruição de sua escola durante a pandemia, que reforçaram ainda mais sua luta pela permanência na terra. - O que mudou com a recente declaração do Governo Federal sobre o Quilombo Campo Grande?
O Governo Federal declarou a área de interesse social para fins de reforma agrária, permitindo que o Incra inicie os procedimentos para a criação do Assentamento Quilombo Campo Grande, promovendo, assim, a formalização da posse da terra para as famílias que ali habitam.