Celebrando 130 anos de existência, o Herbário João Murça Pires, vinculado ao Museu Paraense Emílio Goeldi, se destaca como uma referência nacional e internacional na conservação e registro da diversidade vegetal da Amazônia. A coleção da instituição, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), reúne aproximadamente 255 mil amostras, principalmente da região amazônica. O acervo principal de exsicatas é complementado por amostras de madeira, frutos, pólen, óleos aromáticos, plântulas e etnobotânica, sendo fundamental para pesquisas científicas e para a formação de novas gerações de botânicos.
Reconhecido como o herbário mais antigo da região Norte do Brasil e o terceiro do país, o Herbário MG possui o maior conjunto de tipos nomenclaturais da Amazônia, com mais de 3 mil registros de espécies vegetais. “Essas amostras são como certidões de nascimento das plantas. Sua importância se dá por meio desses tipos, que permitem confirmar a verdadeira identidade de uma espécie e ajudam botânicos ao longo do tempo a diferenciá-la de novas espécies ou de outras do mesmo gênero”, explicou Anna Luiza Ilkiu-Borges, coordenadora de Botânica do Museu Goeldi.
O acervo está em constante expansão por meio de coletas em campo, pesquisas acadêmicas e projetos focados na flora amazônica. Nas últimas décadas, mais de cem novas espécies foram descritas com base em amostras do Herbário MG, contribuindo para as políticas públicas de conservação. A informatização iniciada na década de 1990, com sistemas como o BRAHMS e atualmente o Specify, facilitou o acesso às informações e democratizou o uso da coleção para especialistas de várias partes do mundo.
O aspecto educativo do herbário também merece destaque. Por meio do programa Museu Portas Abertas e ao longo do ano, estudantes de escolas públicas e professores em formação visitam o local. O objetivo é estimular a curiosidade dos jovens para uma nova jornada de descobertas e aumentar o interesse pela diversidade vegetal, enfatizando a importância desse patrimônio para as futuras gerações.
O maior legado do Herbário MG é, há mais de um século, ser um guardião vivo da memória botânica da Amazônia. Mais do que um simples acervo, representa a continuidade do conhecimento científico sobre a maior floresta tropical do planeta, servindo como referência para gerações de pesquisadores no Brasil e globalmente.
“Sua história também é a história da busca incessante por compreender, preservar e valorizar a extraordinária diversidade vegetal da Amazônia”, concluiu Anna Luiza Ilkiu-Borges.
- Anna Luiza Ilkiu-Borges Benkendorff em trabalho de campo. Ela coordena a atualização da lista de espécies ameaçadas de extinção da flora do Pará, um projeto desenvolvido para o IDEFLOR-Bio (PA)
Comemorações dos 130 anos
Para marcar o aniversário do Herbário do MG, fundado em 1895, o Museu Emílio Goeldi organizou oficinas e expedições botânicas. Nesta quarta-feira (30), às 9h, será realizada a mesa-redonda “O papel dos herbários na Amazônia”. O evento, sem necessidade de inscrição, ocorrerá no SECAP – Campus de Pesquisa, situado na Avenida Perimetral, 1901, em Belém – PA.
Quem foi João Murça Pires?
O pesquisador paulista que empresta seu nome ao herbário do Museu Goeldi foi um especialista em taxonomia da flora amazônica, tendo sido inicialmente orientado por Adolpho Ducke. Suas pesquisas tornaram-se clássicas e permanecem como as mais abrangentes e consultadas. Os méritos de Murça Pires vão além de sua significativa contribuição no Museu Goeldi, onde atuou de 1975 até sua aposentadoria. Ele também foi responsável pela fundação de quatro herbários no Brasil: o do IAN – precursor do Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Norte/Ipean, atualmente conhecido como Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental/Cpatu/Embrapa; o da Universidade de Brasília; o da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira/Ceplac, em Itabuna; e, finalmente, o da Universidade Federal do Maranhão.