Ibrahim Traoré, nascido em 14 de março de 1988 em Kéra, na comuna de Bondokuy, Burkina Faso, é um militar que ascendeu ao posto de presidente de transição de seu país após um golpe de Estado em setembro de 2022. Sua trajetória destaca-se por uma rápida progressão na carreira militar e por ações decisivas no cenário político burquinense.
Formação e Carreira Militar
Traoré iniciou sua educação primária em Bondokuy e concluiu o ensino secundário no liceu misto de Accart-ville, em Bobo-Dioulasso, onde obteve o bacharelado em 2006. Posteriormente, ingressou na Universidade de Ouagadougou, graduando-se com distinção em Geologia em 2010. Durante seus anos universitários, foi membro ativo da Association nationale des étudiants du Burkina (ANEB), uma organização estudantil de inspiração marxista, e da Associação de Estudantes Muçulmanos.
Em 2010, Traoré ingressou nas Forças Armadas de Burkina Faso, recebendo formação na Academia Militar Georges Namoano, onde se destacou como vice-líder de sua turma. Ao longo de sua carreira, participou de diversas operações militares contra o terrorismo, incluindo missões em Djibo e na operação Otapuanu em 2019. Em março de 2022, foi nomeado chefe de artilharia do 10º Regimento de Comando de Apoio e Suporte (RCAS) em Kaya.
Ascensão ao Poder
Em 30 de setembro de 2022, o capitão Traoré liderou um golpe de Estado que destituiu o então presidente Paul-Henri Sandaogo Damiba, marcando o segundo golpe no país naquele ano. A insatisfação com a deterioração da segurança e a incapacidade do governo anterior em conter a violência extremista foram fatores determinantes para a ação militar. Após a destituição de Damiba, Traoré assumiu a liderança do Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR) e foi oficialmente nomeado presidente de transição em 6 de outubro de 2022.
Políticas e Desafios no Governo
Desde sua ascensão, Traoré implementou medidas significativas para enfrentar a insurgência jihadista que afeta o país. Em fevereiro de 2023, anunciou grandes ofensivas contra grupos extremistas e, em abril do mesmo ano, decretou mobilização geral, incluindo o recrutamento de novos soldados e voluntários para a defesa da pátria. Além disso, buscou diversificar as parcerias militares de Burkina Faso, estabelecendo cooperação com países como Rússia, Turquia e Coreia do Norte.
A gestão de Traoré também é marcada por um crescente sentimento anticolonial e esforços para reforçar a identidade nacional. Em novembro de 2024, por exemplo, magistrados burquinenses decidiram substituir as togas negras de origem francesa por trajes tradicionais feitos de algodão local, simbolizando a autonomia e independência do país.
Relações Internacionais e Controvérsias
Sob a liderança de Traoré, Burkina Faso reavaliou suas alianças internacionais. Em 2023, o país expulsou forças francesas que auxiliavam no combate à insurgência e fortaleceu laços com a Rússia, incluindo a colaboração com o grupo paramilitar Wagner. Essa mudança de alianças reflete uma estratégia de diversificação de parcerias e uma resposta às críticas sobre a eficácia das intervenções anteriores.
Desafios Atuais
Burkina Faso continua enfrentando desafios significativos relacionados à segurança, com ataques extremistas resultando em milhares de mortes e mais de dois milhões de deslocados internos. Além disso, o governo de transição, inicialmente comprometido com a restauração da governança civil até meados de 2024, estendeu o período de transição por mais cinco anos, decisão que gerou debates tanto internamente quanto na comunidade internacional.
A liderança de Ibrahim Traoré representa um período de transformações e desafios para Burkina Faso, com esforços concentrados na restauração da segurança, promoção da identidade nacional e redefinição das relações internacionais do país.