Em Manaus, pesquisadores da Amazônia enfatizaram a importância da ciência, tecnologia e inovação na criação de soluções para enfrentar a crise climática com justiça socioambiental. O evento pré-COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas no Brasil) resultou em um documento que sintetiza as contribuições de mais de 60 instituições, com a participação destacada do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), que será apresentado nesta quarta-feira (20) ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.
O encontro da comunidade científica e tecnológica da Amazônia com a presidência da COP30 ocorreu em dois dias na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e o encerramento contou com a presença da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja, enviada Especial para Mulheres da COP30, além da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Movimentos sociais e representantes de populações tradicionais e indígenas também contribuíram para o diálogo.
Segundo o diretor do Inpa, professor Henrique Pereira, o documento gerado por esse esforço conjunto entre instituições é “impressionante” e inclui as contribuições da agenda científica já em prática por 408 infraestruturas de ciência e tecnologia nos nove estados da Amazônia Legal. “Sempre estivemos longe de sermos um vazio demográfico ou científico. A Amazônia é repleta de ciência e cientistas”, declarou.
Pereira destacou que a principal mensagem do documento é uma “demonstração clara” da capacidade e força do ecossistema de ciência, tecnologia e inovação da Amazônia em gerar conhecimento que fundamenta as ações propostas pela presidência da COP e a implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada – NDC ou Nationally Determined Contribution – 2025 a 2035. O documento é resultado de dois meses intensos de colaboração entre pesquisadores e docentes da região.
A iniciativa é coordenada pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (CDESS/SRI), conhecido como “Conselhão”, órgão consultivo da Presidência, em parceria com Inpa, Ufam, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/ MCTI), Embrapa, Universidade Federal do Pará (UFPA), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes-Norte), Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional (Conif) e Instituto Evandro Chagas e Rede de Universidades Estaduais da Amazônia Legal (Abruem).
“O Conselho tem a função de criar conexões, facilitar a comunicação e trazer as vozes da comunidade acadêmica, do setor privado e da sociedade civil para o centro das decisões do governo. Agradecemos por proporcionar este espaço de diálogo direto entre a comunidade acadêmica da Amazônia e o processo da COP30”, afirmou Olavo Noleto, secretário-executivo do Conselhão.
O encontro em Manaus integra a Agenda de Ações da COP30, liderada pela presidência da COP no Brasil para enfatizar a importância da ciência na Amazônia como componente essencial para atingir as metas climáticas do Brasil, alinhando-se a programas nacionais como o Plano de Transformação Ecológica, o Plano Clima, a Nova Indústria Brasil e as diretrizes da Agenda de Ação da COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).
A reitora da Ufam, Tanara Lauschner, destacou a colaboração em rede entre instituições para a realização do evento. “É uma honra recebê-los, tanto pesquisadores da Ufam quanto de outras instituições, demonstrando que fazemos ciência de qualidade para enfrentar as mudanças climáticas, e que não há alternativa sem ciência, tecnologia e apoio”, declarou.
“É a primeira vez que participo de um evento científico e a ciência reafirma o que defendemos: a preservação de nosso território, a agroecologia, a comida sem agrotóxicos e o reflorestamento das áreas degradadas”, afirmou a indígena Maria do Socorro Gamenha da Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas (Makira ETA), uma das representantes da sociedade civil no eixo sobre Transformação da Agricultura e Sistemas Alimentares. “Ainda cuidamos de nossas florestas, mas sem terras e território, como conseguiremos garantir nossa soberania alimentar?”, complementou.
Eixos de ações da COP30
A agenda global da COP30 é organizada em 30 ações concretas, distribuídas em seis eixos, que foram utilizados para definir os grupos de trabalho compostos por cientistas, acadêmicos e representantes de organizações e movimentos tradicionais. Vários pesquisadores do Inpa participaram ativamente dos debates.
Os seis eixos são — Transição energética, da indústria e dos transportes; Gestão das florestas, oceanos e biodiversidade; Transformação da agricultura e dos sistemas alimentares; Criação de resiliência para cidades, infraestruturas e oferta de água; Promoção do desenvolvimento humano e social; Promoção e aceleração de capacidades, incluindo financiamento, transferência de tecnologia, fortalecimento e desenvolvimento de habilidades.
Com informações do Inpa