O hidrogênio natural tem atraído atenção mundial por seu potencial como fonte de energia limpa, gerada continuamente pela própria Terra através de processos geológicos. Com o intuito de desenvolver um projeto inovador nesse campo, o Observatório Nacional, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (ON/MCTI), adquiriu os sistemas sísmicos Mini e Nimble da STRYDE. Esses equipamentos permitirão a realização de levantamentos geofísicos de alta resolução, focando na exploração do potencial brasileiro em fontes de energia limpa.
Esses sistemas podem coletar dados sísmicos passivos, resultantes de movimentos naturais do solo, além de dados gerados artificialmente por fontes sísmicas, como vibradores de grande porte, normalmente acoplados a caminhões.
“Os equipamentos são ultracompactos e leves, projetados para registrar vibrações do subsolo com alta precisão. Eles permitem a instalação de um número significativamente maior de sensores em campo, cobrindo áreas extensas e coletando dados de maneira mais densa e rápida do que as tecnologias convencionais”, explicou o geofísico Artur Benevides, do Observatório Nacional.
Com esses sistemas, será possível obter imagens sísmicas mais detalhadas, capazes de revelar estruturas geológicas sutis, onde o hidrogênio talvez se acumule. Além disso, são fáceis de transportar e operar, o que é crucial em áreas remotas ou de difícil acesso. Na prática, essa tecnologia melhora a qualidade dos dados e a precisão dos levantamentos geofísicos, diminuindo o tempo de aquisição e expandindo a capacidade de atuar em diversos projetos de grande escala.
A primeira utilização dos sistemas será em uma campanha pioneira de exploração de hidrogênio, visando a obtenção de dados sísmicos de alta densidade que revelem, de forma sem precedentes, a estrutura do subsolo brasileiro.
“O ON busca constantemente estar na vanguarda de novas tecnologias para desenvolver melhores práticas e oferecer soluções à sociedade brasileira. No caso do hidrogênio natural, não ficaríamos de fora desse avanço, devido ao seu enorme potencial”, comentou Artur Benevides.
De acordo com o pesquisador, o Observatório identificou que o Brasil possui ambientes geológicos favoráveis, como a presença de rochas ultramáficas, ricas em ferro, um componente essencial para a formação de hidrogênio. Estudos científicos também indicam exsudações de hidrogênio natural na Bacia Sedimentar de São Francisco, que se localiza, em parte, em Minas Gerais, além de registros semelhantes na região de Maricá, no Rio de Janeiro.
“Com isso, começamos a organizar um grupo de pesquisadores liderado pelo Dr. Sérgio Fontes no Observatório Nacional para desenvolver uma análise sistemática e integrada de geologia e geofísica, utilizando a infraestrutura existente e incorporando novas tecnologias, como esses novos sistemas. O objetivo é avaliar se essas áreas contêm reservas de hidrogênio natural que possam ser exploradas no futuro”, detalhou Benevides.
A campanha de hidrogênio será a primeira de várias iniciativas planejadas pelo Observatório Nacional para avaliar o potencial do Brasil na formação de acúmulos naturais viáveis de hidrogênio, um tema que vem despertando crescente interesse na comunidade científica e no setor energético.
“Esses estudos fornecem uma base científica para que o Brasil decida se o hidrogênio natural pode ser incluído em nossa matriz energética. Quando se conhece sua localização, volume, capacidade de produção e os impactos ambientais — que são muito baixos em comparação com outras fontes de energia a partir de hidrogênio — é possível criar políticas públicas mais eficazes, definir áreas prioritárias e estabelecer regras para uma exploração segura”, enfatizou Artur Benevides.