quinta-feira, julho 31, 2025
HomeAnálisesREVISÃO | Rematch é o caos arcade que (finalmente) torna o futebol...

REVISÃO | Rematch é o caos arcade que (finalmente) torna o futebol divertido

Créditos: Divulgação/Sloclap

Se você passou os últimos anos desconfiando de qualquer produto que tenha “esporte” e “videogame” no título, saiba que não está sozinho. Após uma sequência de decepções com FIFA, eFootball e outras franquias repletas de falhas, era compreensível esperar que Rematch fosse apenas mais um jogo mal elaborado, inspirado em Rocket League.

Contudo, a realidade é diferente. Trata-se de um jogo de futebol arcade com um toque de humor e uma dinâmica intensa. E, surpreendentemente, é altamente viciante. Você entra, enfrenta desafios, aprende e logo quer mais.

A dinâmica aqui é outra: não há regras, nem juízes, e o campo é uma arena cercada por paredes. Isso mesmo. Paredes que possibilitam jogadas insanas, passes de cabeça com você mesmo e até flutuação em direção ao gol.

Uma partida dura 6 minutos. O trauma, muito mais.

Em Rematch, tudo é rápido: a bola, o placar, a frustração. Seis minutos por partida, que parecem três quando você está perdendo e doze quando segura o empate.

Quando o placar está empatado, surge o golden goal. É nesse momento, no quarto minuto da prorrogação, que o jogo gera uma tensão entre pânico e euforia, criando uma experiência chamada de “flow”.

Você atua apenas por instinto. Não pensa. Corre.

Mecânicas simples, caos garantido

O jogo oferece um tutorial que ninguém assiste, mas que seria útil. Você pode acabar tentando dar um carrinho quando deveria chutar, ou pressionando o botão errado na hora do gol. E tudo bem. O jogo compreende isso e, inclusive, concede gols extras de misericórdia nas primeiras partidas.

Com o tempo, você melhora. Aprende a utilizar o minimapa, a alternar entre carrinho e desarme em pé, e a chutar com precisão. Não porque o jogo explique claramente (ele não é bom nisso), mas pela repetição que ensina.

Você sente que está melhorando a cada partida, mesmo quando sofre goleadas.

É possível escolher entre equipes 3v3, 4v4 e 5v5. Porém, aqui se aplica a Lei de Murphy: quanto mais jogadores, maior o potencial para erros coletivos. Os jogadores avançam sem noção de espaço, posição ou civilidade.

Na verdade, o modo 3v3 é onde o jogo realmente brilha. Há um toque de caos, mas também espaço para respirar, para aprender a driblar ou passar. Para errar e para se destacar. Isso é bom. E raro.

Um detalhe que muda bastante a experiência é o tipo de controle que você usa.

Se jogar com teclado e mouse, prepare-se para uma curva de aprendizado mais acentuada. A movimentação pode ser mais restrita, e o mouse exige coordenação extra para mirar e dar passes ou chutes precisos.

É mais complicado, mas muitos preferem, especialmente os jogadores mais técnicos que gostam de ter controle sobre cada direção, força de chute, e detalhe.

Com o controle tradicional (gamepad), o jogo flui melhor. Os analógicos combinam bem com a movimentação rápida e passes dinâmicos. É mais intuitivo e suave, ideal para aqueles que buscam uma experiência mais relaxante após um dia cansativo. Jogadores mais agressivos, focados em dribles e jogadas rápidas, geralmente se saem melhor aqui.

Em resumo:

Estilo de jogador Melhor opção
Técnico, meticuloso Teclado e mouse
Rápido, instintivo Controle tradicional
Gosta de sofrer Teclado e mouse mesmo
Quer se divertir Vá de controle logo

É comum ouvirmos a pergunta sempre que alguém assiste a um vídeo de Rematch: “É como Rocket League, né?” Sim. E não. E sim. Mas principalmente não.

Ambos os jogos compartilham o DNA do caos arcade, com partidas rápidas, mecânicas fáceis de aprender, mas difíceis de dominar, e uma física que frequentemente parece mais emocional do que lógica. Ambos colocam os jogadores em uma arena fechada, onde a parede é parte do jogo. Transcendem erros e transformam gols em espetáculo.

Porém, enquanto Rocket League oferece um carro, Rematch devolve pernas, e as consequências disso são significativas. Você salta menos, corre mais e possui erros mais humanos. Não voa, tropeça, e logo tenta fazer parecer que foi intencional.

Se Rocket League é xadrez com explosões, Rematch é futsal com intensidade e déficit de atenção.

Além disso, Rocket League possui uma comunidade robusta. Há “meta”. Existe “posicionamento correto”. Até mesmo jogadores que praticam jogadas ensaiadas.

Em Rematch, ainda estamos em um estágio primitivo. Todos correm atrás da bola ao mesmo tempo, como crianças em um parque. E isso é o que torna o jogo tão viciante: ele ainda é puro.

Outra diferença se dá na precisão necessária: enquanto Rocket League demanda quase precisão cirúrgica, Rematch premia o instinto. Um corte certo, um carrinho preciso, dribles antes que a energia acabe, um passe que não desvia. Aqui, não é preciso ser excepcional, mas sim melhor que o goleiro adversário.

Como é a jogabilidade de Rematch?

Na teoria, Rematch é futebol. Na prática, assemelha-se a um reality show esportivo.

Cada jogador tem uma barra de estamina que se esgota com corridas, carrinhos e dribles. Correr demais? Você se torna apenas um obstáculo. Defender demais? Um zumbi.

E o melhor: essa estamina demora para se repor. Portanto, dos seis minutos de partida, em boa parte você estará exausto, com o botão de sprint clamando por socorro.

Goleiro: o herói trágico

O papel do goleiro é, talvez, o mais desafiador e glorioso do jogo. No gol, você carrega o peso do mundo nas costas. Com uma visão limitada e tempo de reação reduzido, qualquer falha pode se transformar em highlight para o adversário.

Primeiro: o goleiro possui uma estamina própria, separada dos demais jogadores. Isso significa que, mesmo enquanto todos estão exauridos, o goleiro ainda pode saltar, se jogar na bola como em uma final de Copa. Mas essa energia também se esgota. Quando termina, é um gol garantido, rasteiro e humilhante.

Ser goleiro em Rematch é ter superpoderes temporários e a certeza de que você será culpado independentemente do que aconteça.

O goleiro pode também pular, uma habilidade que os outros não utilizam frequentemente. Esse salto é a última linha de defesa, mas exige cronometragem, reflexos e leitura quase perfeita do jogo. Se errar o tempo, prepara-se para as consequências.

Ademais, o goleiro não é fixo. Você pode avançar para o ataque a qualquer momento. Caso alguém da sua equipe tenha bom senso, essa pessoa automaticamente assume como novo goleiro. É quase um sistema de confiança coletiva, que tipicamente resulta em falhas.

No Rematch, o gol não é apenas defendido; ele é negociado.

Esse sistema dinâmico transforma cada jogada em um dilema ético. Ataco ou fico? Me lanço ou espero? Ninguém quer ser o culpado, mas inevitavelmente alguém sempre será.

Dribles: fingir que sabe o que está fazendo

O sistema de drible é mais complexo do que aparenta. Você pode dar toques rápidos, fintas laterais, passes de calcanhar, cortes secos. Mas a verdade é que a maioria dos jogadores utiliza essas opções sem entender exatamente como funcionam. E ainda assim, funciona, já que o caos é democrático.

Com prática, você começa a entender o tempo adequado para as jogadas, a dosar os dribles, combinar com o sprint e confundir seus adversários. O jogo recompensa a ousadia, mesmo quando resulta em falhas.

O melhor e o pior da internet

Rematch é um jogo online, o que significa que você encontrará três tipos de jogadores:

  1. O que se destaca e não diz uma palavra.
  2. O que se sai mal e fala demais.
  3. O que joga mal, fala demais e acredita que é o Messi.

Houve quem sugerisse que eu deveria “ir pastar” após um gol inacreditável tomado no último segundo. Esses dramas são o que tornam o jogo inesquecível. Ou insuportável, dependendo do dia.

As comemorações são praticamente um minijogo à parte. Após um gol, inicia-se um espetáculo: danças exageradas, poses ridículas, piruetas desnecessárias. Tudo com a energia de “acabei de fazer história e ninguém vai me parar”. É irritante quando acontece contra você.

Mas quando é seu personagem dançando sobre os escombros emocionais do adversário, isso se torna um momento de ouro. Ao longo da partida, a arena muda de cenário, o céu escurece, a iluminação altera, como se o campo reagisse ao caos.

Essas mudanças visuais proporcionam uma atmosfera inesperada às partidas e ajudam a quebrar a monotonia das partidas mais longas.

Moedas, skins e… Ronaldinho

Como todo jogo moderno, Rematch possui sua economia própria, que pode ser confusa. O jogo introduz moedas chamadas Quant e Tokens, além de uma terceira que nem todos entendem. Cada botão do menu parece abrir uma carteira diferente.

As moedas são obtidas ao jogar e também podem ser compradas, permitindo o desbloqueio de cosméticos: camisas, calças, chuteiras, chapéus excêntricos e até uma skin do Ronaldinho… Sim, o Ronaldinho.

Com seu estilo característico, sorriso inconfundível e dente torto. E sim, isso tem um custo. Não apenas em dinheiro: exige tempo, dedicação e momentos de desconforto ao tentar parecer estiloso, mas acabando como um NPC de GTA San Andreas.

Quant? Token? Daqui a pouco vão inventar a moeda ‘Pano de Chão’ e você vai precisar dela para trocar a cor da sua tornozeleira.

O lado positivo é que cosméticos não melhoram atributos. Eles são pura aparência. E quem se importa? Em um jogo onde todos têm dificuldades, a estética é muitas vezes o que conta. Há quem perca, mas brilhe mais que o letreiro do Times Square.

O sistema de loja é dinâmico, com itens limitados e passe de temporada. Claro que tem. O capitalismo não dorme, nem quando você só quer jogar bola.

Matchmaking: o algoritmo que odeia você

Algumas pessoas acreditam em horóscopos, outras em karma. E há quem pense que o sistema de pareamento de Rematch seja justo. Essas pessoas estão enganadas.

O sistema de matchmaking é, no mínimo, temperamental. Em uma partida, você pode estar em um time que parece uma seleção olímpica de talentos. Na seguinte, enfrenta cones com crises existenciais, ou até um time misturado de jogadores que entram e saem, como uma pelada no bairro.

Divulgação/Sloclap

O pior? O jogo mal foi lançado e já coloca você contra jogadores com 200 horas de experiência — enquanto você ainda tenta descobrir o botão de chute. É o clássico “bem-vindo ao online”, mas em escala maior. As partidas variam entre “batalha épica” e “humilhação pública”.

Além disso, como há poucos jogadores ranqueados, o sistema ajusta os critérios para preencher salas. Você está no bronze? Fique tranquilo, enfrenta alguém do diamante porque “dane-se, é só jogo, né?”. Não é. É pessoal.

Mesmo com algumas falhas, fica evidente que a desenvolvedora Sloclap está trabalhando para aprimorar o sistema, que já apresenta melhorias.

Problemas? Claro. Mas ainda dá pra engolir

O jogo, de fato, apresenta diversos problemas. Alguns erros persistem mesmo após várias janelas de beta. É comum tocar a bola e ainda assim perder a disputa. A física pode falhar, e os passes, ao contrário do esperado. O pior? Não há crossplay, mesmo em 2025.

Ah, e o preço é de R$ 89. Um pouco salgado para um jogo sem modo história ou offline. Mas está disponível no Game Pass e pode reduzir de preço em breve. Se baixasse para R$ 49, seria uma ótima compra. Mesmo a R$ 89, oferece mais que muitos jogos que custam o dobro.

Rematch: vale a pena?

No final, Rematch é um convite à diversão. E ao erro. E à risada. É uma celebração de gols suados como se fossem finais de Copa do Mundo e o desespero quando seu goleiro (ou você mesmo) marca um gol contra acidentalmente.

A verdade é que todos ainda se encontram no mesmo nível. Este é um jogo como serviço com grande potencial de evolução. Não há uma “meta” consolidada, nem tutoriais definitivos no YouTube que expliquem tudo.

Sim, ainda é um pouco repetitivo. Carece de modos diferentes, maior variedade de arenas e conteúdo além do caos. Mas é apenas o começo. Há indícios de que melhorias estão a caminho, se os desenvolvedores continuarem nesse ritmo.

Pela frente, está você, a bola e a loucura de tentar acertar algo.

Prós

Jogabilidade rápida e viciante

Mecânicas fáceis de aprender, difíceis de dominar

Sistema de dribles e passes que permite jogadas criativas

Visual estilizado e arenas com background dinâmico

Comemorações exageradas e divertidas

Goleiro dinâmico e com possibilidade de jogar na linha

Ótimo para jogar com amigos ou dar risada

Disponível no Game Pass

Contras

Ainda tem poucos modos e arenas

Sistema de moedas confuso e inflacionado

Sem crossplay

Bugs e colisões imprevisíveis

Alguns desequilíbrios em partidas com times grandes

Preço cheio ainda é alto

O jogo Rematch foi gentilmente cedido pela Sloclap, na versão para PC (Steam), para elaboração desta análise.

RELATED ARTICLES
- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments