É comum associar a Apple e a Samsung como protagonistas de uma das rivalidades mais reconhecidas no universo dos celulares. Ambas as gigantes disputam mercado em quatro continentes, lançam alguns dos smartphones mais vendidos e já se envolveram em disputas judiciais e campanhas publicitárias ousadas. O embate se intensificou com o anúncio do iOS 26 durante a WWDC 2025. Após a apresentação das novas funcionalidades, a Samsung utilizou as redes sociais para ironizar a concorrente, destacando que muitos dos recursos eram parte do ecossistema Galaxy há algum tempo — mais um capítulo nas tradicionais alfinetadas entre as marcas.
Apesar do clima constante de rivalidade, existe um aspecto pouco abordado nessa narrativa. Por trás das estratégias de marketing e das manchetes de confronto, Apple e Samsung mantêm uma relação comercial que movimenta bilhões de dólares anualmente e que, curiosamente, assegura uma significativa fatia do faturamento da sul-coreana. Na prática, enquanto a Apple se concentra no design, software e experiência do usuário, a Samsung fabrica alguns dos principais componentes que dão vida ao iPhone. A seguir, a TecMania detalha como funciona essa parceria improvável.
A rivalidade entre Samsung e Apple é evidente, mas, “por trás das câmeras”, ambas são parceiras comerciais. Apesar da concorrência no mercado de celulares premium, a Samsung lidera em tecnologia de telas OLED, chips de memória e outros componentes essenciais. Quando a Apple precisa de displays altamente eficientes, como os OLED LTPO dos iPhones Pro, não há fornecedor que ofereça o mesmo nível de brilho, fidelidade de cor e eficiência energética.
Um dos motivos dessa escolha está na tecnologia: as telas OLED da Samsung podem consumir até 75% menos energia do que painéis similares de concorrentes chineses, segundo dados de testes. Isso se traduz em maior autonomia de bateria e menos calor nos iPhones, um diferencial crucial no combate pela liderança de mercado.
Embora poucos saibam, em certos anos, a Samsung lucrou mais vendendo peças para a Apple do que comercializando seus próprios smartphones topo de linha. Um caso emblemático ocorreu em 2017, quando a sul-coreana vendeu entre 180 e 200 milhões de telas OLED apenas para o iPhone X, um volume que gerou mais receita do que toda a venda do Galaxy S8, seu principal lanamento naquele ano, conforme reportado pelo Wall Street Journal. Desde então, a Samsung se tornou a principal fornecedora de painéis OLED para a Apple, contribuindo diretamente para o sucesso de modelos como iPhone 12, 13, 14, 15 e 16. Em 2022, cerca de 82% das telas dos iPhones foram fornecidas pela Samsung, de acordo com Ross Young, CEO da consultoria Display Supply Chain Consultants (DSCC).
O que enriquece a Samsung nesse processo são os contratos bilionários de fornecimento. A cada novo iPhone vendido com tela OLED, uma parte do valor pago pelo consumidor vai diretamente para a Samsung, que lucra com a produção dos componentes. Assim, além de competir nas prateleiras, a empresa garante uma fatia do lucro em cada aparelho vendido, dinheiro que pode ser reinvestido em pesquisa, inovação e até mesmo em sua própria linha Galaxy.
A influência da Samsung nos produtos da Apple não se limita aos iPhones. A empresa sul-coreana também fornece painéis OLED para o iPad Pro e para o Apple Watch, e a parceria tende a se intensificar nos próximos anos com a introdução do MacBook com tela OLED. Segundo a consultoria Omdia, a Apple deve substituir os tradicionais painéis LCD dos MacBook Pro por telas OLED a partir de 2026, com a Samsung prevista como uma das principais fornecedoras. Dado que a linha MacBook vende milhões de unidades anualmente, espera-se que o contrato gere ainda mais bilhões à Samsung e amplie sua presença no ecossistema Apple.
Apesar desse histórico de colaboração, a Apple tem acelerado esforços para reduzir sua dependência da Samsung. O objetivo é claro: ganhar maior controle sobre seus produtos, diversificar fornecedores e evitar que uma concorrente direta tenha um peso excessivo na cadeia de suprimentos. Nos últimos anos, outras fabricantes começaram a ganhar espaço nesse ecossistema. Empresas como LG Display e a chinesa BOE já fornecem parte das telas OLED usadas nos iPhones. Em 2022, a Samsung ainda representou 82% dos painéis OLED instalados no iPhone 14, enquanto LG e BOE avançaram, com 12% e 6% das telas, respectivamente. Embora a mudança ocorra de forma lenta, indica uma busca gradual por alternativas e menor centralização em um único fornecedor.
Além disso, a Apple investe consideravelmente para desenvolver painéis com tecnologia microLED, que prometem mais brilho, eficiência e durabilidade em relação ao OLED tradicional. A expectativa é que esses painéis sejam inicialmente utilizados no Apple Watch e, posteriormente, em outros produtos, como iPhones e iPads.
A Samsung também fornece componentes para outras marcas, consolidando-se como uma das maiores fornecedoras globais de eletrônicos. Seus painéis OLED equipam celulares de marcas como OPPO, OnePlus, JOVI, ZTE e Hisense, sendo frequentemente considerados referência em consumo de energia, brilho, contraste e fidelidade de cores. No segmento de processadores, o Exynos, chip da Samsung, aparece principalmente na linha Galaxy, mas também foi adotado por outras empresas, como o vivo S15e. A Samsung ainda fornece sensores de câmera para marcas como Google, TECNO e ZTE, e há rumores de que o iPhone 18, previsto para 2026, pode ter câmeras desenvolvidas pela sul-coreana.
No mercado de memória RAM e armazenamento, módulos fabricados pela Samsung estão presentes em smartphones de grandes fabricantes. As baterias da Samsung, conhecidas por sua qualidade e durabilidade, são usadas em celulares, tablets e wearables de diversas marcas, incluindo concorrentes como LG e Amperex Technology. Assim, mesmo aqueles que nunca tiveram um Samsung em mãos podem ter usado algum componente fabricado pela empresa.