Desde a década de 1920, com Santos se destacando como o maior porto da América Latina, a população da Baixada Santista aguarda a concretização de uma ligação definitiva com o Guarujá. Enquanto o porto se firmava como motor do desenvolvimento nacional e a movimentação de cargas aumentava, a travessia por balsas mostrava-se cada vez mais insuficiente. Surge, assim, a ideia de uma travessia seca entre as duas margens, um anseio que persistiria por todo o século XX sem se materializar.
Nos anos 1940, o projeto voltou à pauta, especialmente em 1948, quando engenheiros e autoridades debateram a construção de uma ponte levadiça. A proposta gerou controvérsia: alguns viam a ponte como um avanço moderno, enquanto outros temiam que ela comprometesse o futuro do porto, limitando a entrada de navios maiores. Embora se cogitasse a construção de um túnel como alternativa, os custos e a complexidade técnica excediam as capacidades da época.
As décadas seguintes foram marcadas por idas e vindas. Nos anos 1960, novos estudos emergiram, refletindo um desejo de modernização. Já na década de 1980, os planos foram novamente anunciados por governos estaduais e federais, mas as crises econômicas e a escassez de recursos públicos mantiveram a população em expectativa frustrada. A cada nova promessa, renascia a esperança; a cada adiamento, crescia a decepção.
No início do século XXI, um novo otimismo surgia em torno do projeto. Em 2010, um novo anúncio reacendeu as esperanças de que a ligação se tornaria realidade. Entretanto, obstáculos ambientais e financeiros novamente impediram o avanço. O túnel virou um símbolo de um sonho adiado, ao mesmo tempo em que se tornava uma necessidade premente para o dia a dia da Baixada Santista.
Em 2024, o cenário começou a mudar com a inclusão da obra no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), estabelecendo clareza em orçamento, cronograma e execução. Em agosto de 2025, foi lançado o edital para a construção do primeiro túnel submerso da América Latina, com um investimento estimado em R$ 6,8 bilhões.
Em visita a Santos, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, destacou a importância histórica da obra. “É uma honra participar desse momento de uma construção que já completa 100 anos. Uma obra que impactará a vida de cerca de 80 mil pessoas que cruzam diariamente esse canal,” ressaltou, enfatizando que muitos de seus antecessores teriam desejado ver essa realização.
Além da infraestrutura, a espera moldou a memória da região. Relatos de trabalhadores que enfrentaram travessias difíceis, principalmente em dias de mau tempo, tornaram-se comuns. A ausência de uma passagem direta limitou a integração das cidades, tornando o escoamento de cargas um desafio significativo.
A grandiosidade do túnel se mede pela transformação que promete trazer. Com a travessia submersa, a região deverá ter mais integração urbana e logística, favorecendo a mobilidade de trabalhadores, estudantes e famílias. A obra será um impulso para o Porto de Santos, aumentando sua competitividade internacional e aprimorando o escoamento de cargas.
O projeto também considera a sustentabilidade ambiental, incluindo soluções para reduzir emissões e incentivar a mobilidade limpa. O túnel, que terá 1,5 km de extensão, contará com acessos para pedestres e ciclistas e corredores exclusivos para o VLT, além de duas faixas por sentido para veículos. Esta obra representa um marco de engenharia inédito no continente e promete mudar a rotina dos moradores da Baixada Santista, que atualmente dependem das balsas e catraias.
A estudante Maria Eduarda vê no túnel uma conquista cotidiana, destacando a importância de otimizar o tempo de deslocamento para os trabalhadores da região. A autônoma Meire Rodrigues enfatiza a segurança que a nova travessia proporcionará, almejando um transporte mais eficiente e seguro. Após um século de tentativas, a ligação entre Santos e Guarujá caminha para se tornar realidade, unindo memória, inovação e desenvolvimento, e abrindo caminho para uma nova era de mobilidade na Baixada Santista.
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