Site anônimo revela músicas favoritas de executivos de tecnologia, políticos e jornalistas, levantando preocupações sobre privacidade e exposição de dados na plataforma
Se você já se perguntou o que líderes influentes da tecnologia e da política andam escutando no Spotify, um novo site anônimo te dá essa resposta, mesmo que você nunca tenha pedido por ela. Chamado de Panama Playlists, o projeto reúne as supostas playlists públicas de nomes como Sam Altman (OpenAI), JD Vance (vice-presidente dos EUA), Pam Bondi (Procuradora-Geral) e jornalistas como Mike Isaac (NYT) e Kara Swisher.
E não estamos falando de achismos. Pelo menos cinco pessoas cujos nomes estão listados no site confirmaram que os dados são reais. “Felizmente a minha não é tão embaraçosa”, escreveu Mike Isaac no X (Twitter). Já Palmer Luckey, fundador da Oculus, também confirmou que sua playlist chamada Best Music Ever é autêntica.
Como isso aconteceu?
A verdade é que o Spotify facilita demais o acesso público aos perfis e playlists. A configuração padrão da plataforma deixa tudo visível e esconder suas preferências musicais exige não apenas ajustes manuais nas configurações de privacidade, mas também em cada playlist individualmente.
Mesmo que você ache que seu perfil está “oculto”, colaborações em playlists com amigos ou o uso do Facebook como login tornam a descoberta muito mais fácil do que se imagina. Uma editora do The Verge, por exemplo, descobriu que estava sendo seguida por colegas sem nunca ter sido notificada.
Entre os hits e as gafes
A curadoria do Panama Playlists vai além da simples curiosidade. Algumas descobertas são, no mínimo, inusitadas:
- JD Vance tem uma playlist chamada Making Dinner, que inclui I Want It That Way, dos Backstreet Boys, e One Time, de Justin Bieber;
- A jornalista Taylor Lorenz curte Take a Bow da Rihanna e Romeo and Juliet do Dire Straits;
- O colunista Casey Newton revelou que sua música mais ouvida foi All You Children, de Jamie xx e The Avalanches, e emendou: “Altamente recomendada para seu churrasco de verão”;
- Kara Swisher, por outro lado, negou a playlist associada a ela, mas admitiu que pode ser da sua esposa, com quem divide uma conta na Peloton.
Até o editor de tecnologia do WSJ, Joanna Stern, entrou na brincadeira: “O criador do site parece ter algo contra o Third Eye Blind”, brincou, referindo-se à ausência da banda em sua lista.
O problema é maior do que parece
Apesar do tom leve da situação, o episódio expõe uma falha grave na arquitetura de privacidade do Spotify. A plataforma coleta uma grande quantidade de dados como histórico de buscas, localização, ID de dispositivos, interações com outros usuários, e até como você segura seu smartphone e ainda assim não permite a criação de um perfil totalmente privado. Seu nome e foto ficam sempre visíveis, a menos que você bloqueie manualmente cada usuário.
E mais: algumas listas no Panama Playlists incluem até contagem de reproduções por música, algo que não é visível publicamente por padrão. Isso levanta dúvidas sobre como esses dados foram coletados, seja por bugs, más configurações ou até técnicas de monitoramento manual.
Reflexo de uma cultura de exposição digital
Embora descobrir as músicas favoritas de alguém não seja tão invasivo quanto vasculhar e-mails ou transações bancárias, o caso reflete uma tendência perigosa: a normalização da vigilância e da exposição involuntária de dados pessoais.
Casos semelhantes já ocorreram com transações públicas no Venmo, por exemplo, onde políticos e executivos tiveram suas atividades expostas por simples falta de atenção às configurações de privacidade.
Como proteger seu perfil no Spotify:
- Vá em Configurações > Privacidade e social;
- Desative a opção Playlists públicas;
- Vá manualmente em cada playlist e defina como “Privada”;
- Revise colaborações com outros usuários;
- Verifique quem te segue (mesmo que você nunca tenha sido notificado).
A moral da história? Até seus gostos musicais podem ser uma janela para a sua identidade digital. E em tempos de dados valendo mais do que petróleo, manter o controle sobre suas informações mesmo as aparentemente inofensivas nunca foi tão importante.
Com informações do The Verge.
Por Alan Menezes.